[s/i/c]
Da catenática cultura do futebol alencarino
“Teu passado é todo coberto de glórias,/ Dia a dia tu conquistas mais vitórias,/ Tua bandeira alvinegra desfraldada,/ Teu time em campo tem vitória assegurada”, assim bate o centro o hino do Ceará Sporting. Os hinos dos clubes – com a exceção dos realmente grandões – guardam uma constrangedora e vistosa ironia, míope apenas aos olhos dos apaixonados torcedores.
O Ceará Sporting perdeu ontem merecidamente para o Coritiba [1]. Semifinal da Copa do Brasil. Como quase qualquer time cearense, a equipe do Ceará de ontem à noite praticou aquele catenaccio, aquele anti-futebol de deslavada retranca. Com exceção de algumas formações de Ceará, Fortaleza e Ferroviário dos anos 70 e, bem mais raramente 80, foi sempre assim. O futebol cearense é horrível de ver. Vive de contra-ataques, vitórias magras, retrancas, ceras e alguns heróicos e abnegados goleiros. Alimenta-se amplamente da ilusão, da paixão de seus obstinados – no melhor sentido – torcedores.
Ou de coisas bem piores, como essas torcidas organizadas, do tipo TUF ou Cearamor, que amealham mais dinheiro que os próprios clubes em si – e, portanto, os espoliam e parasitam – além de escolarem seus afiliados nas políticas da truculência, da não tolerância, do sectarismo estúpido. De seus dirigentes, melhor saltar esse degrau, com honrosos e raros patamares de exceção, que até nos fazem pensar se elas existem mesmo.
Torce-se pelo Ceará Sporting, como por qualquer outro clube cearense em competições mais amplas, porque o Ceará está mais perto de casa. Porangabuçu é bem ali. O Núcleo de Saúde da UFC, caindo aos pedaços, coitado, fica em Porangabuçu. E isso de estar mais perto, de ter uma história longa e comum, parece motivo suficiente e bom para torcer. Motivo, em todas suas ressonâncias, ainda não dimensionado por um bocado de gente.
Agora, se fosse tão-só pelo futebol, pelo futebol em si, aquela abstração astuciosamente bem filosofada por Pelés e Ademires da Guias; a que versa sobre tempo, movimento, espaço: you could count me out, Baby.
[1] De um modo interessante e quase avulso o Coritiba, clube de futebol, mantém a graphia arcaica da cidade, que, posteriormente mudou para Curitiba, com"u". Saudades do Birigüi.
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