quarta-feira, 19 de maio de 2010
Quanto mais há que fazer
Almada Negreiros, Retrato de Fernando Pessoa, 1954
Pessoa sobre o tédio
Sobre o tédio diz Pessoa:
"É uma bebida de não ser nada, e a vontade é um balde despejado para o quintal por um movimento indolente do pé à passagem".
Ou ainda:
"Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de sentir que não vale a pena fazer nada. E, sendo assim, quanto mais há que fazer, mais tédio há que sentir".
* * *
Que acabam perdendo seu senso comum: Stein
Pablo Picasso, Retrato de Gertrude Stein, 1906
5 comentários de Gertrude Stein
i.
Out of kindness comes redness and out of rudeness comes rapid same question, out of an eye comes research, out of selection comes painful cattle.
Da bondade vem o enrubescer e da rudeza vem a rápida mesma questão, de um olho vem a pesquisa, da seleção vem atroz rebanho.
ii.
I've been rich and I've been poor. It's better to be rich.
Já fui rica e já fui pobre. É melhor ser rica.
iii.
Everything is so dangerous that nothing is really very frightening.
Tudo é tão perigoso que nada é realmente muito assustador.
iv.
Everybody gets so much information all day long that they lose their common sense.
Todos recebem tanta informação o dia inteiro que acabam perdendo seu senso comum.
v.
Hemingway, remarks are not literature.
Hemingway, comentários não são literatura.
* * *
Linda em todos os particulares: Creeley
Gerhard Richter, Sea Landscape, 1971
MAZATLÁN: MAR
[...]
Bem aqui-
começa
BOBBIE
Louca carinha
de lontra na água---
quadris largos. A alva,
alva pele---uma mulher
de orelhas grandes,
dentes quase brutais---
linda em todos os particulares.
*
De outro modo---os olhos
escuros, no rosto o
ardor de alguma outra
experiência, adensando
no ar.
*
Ah---homem
pensa.
..................................
*
De como o fato de
entrever alguém que você ama longe
de você no tempo
desaparecerá também no tempo.
..................................
*
Todos eles andavam
pela praia
robustos, ou miúdos,
mutilados, na face
da terra.
*
O vento segura
minha perna como
uma mão morna.
*
...........................
*
Ninguém vive na
vida do outro---
ninguém sabe.
No singular
o muito adere,
mas não para sabê-lo.
Aqui, aqui, o corpo
berrando suas ordens
aprende de si.
*
..................................
*
O que você tem
da princesa---
orelhas grandes, pra ouvir
mãos com suaves dedos
Você cavalgará
para a floresta, e lá
a encontrará
E vai reconhecê-la.
Por que não uma outra
não esperada, alguma
linda presença súbito
declarada
Tudo na tua mente
o corpo é, e do
corpo como assim
você a faz.
*
..................................
*
Você vê o sola-
vanco, na rija
compleição, o
garoto---o animal tenso
golpeado, e atrás,
o mar move e
acalma. A ilha assenta
em seu imóvel conforto.
O que, na cabeça, dá errado---
o circuito de repente
carregado de contrários
e só o tempo resta.
*
O sol desce. Os banhistas
assomam negro no vislumbre
prata. A água marulha
e reflui. O ar é suave.
[Fragmento do poema longo "Mazatlán: Sea", de Robert Creeley]
* * *
terça-feira, 18 de maio de 2010
Tê-las querido esconder
"As belas ações escondidas são as mais estimáveis. Quando vejo algumas na História, agradam-me muito. Porém, finalmente, não foram totalmente escondidas, visto que foram sabidas; e, apesar de tudo o que se fez para esconder, esse pouco pelo qual surgiram, estraga tudo; pois é isso o mais belo, tê-las querido esconder.”
[Pascal]
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Quando eu lembrar de novo que você acabou comigo
A escritora curitibana Luci Collin
3 ou Dois Dropes de Luci Collin
Você acredita em escrita feminina?
LC - "Acreditar", nesta pergunta, é um termo impreciso para mim. Se você se refere a alguma ideologia do feminino que eu queira deliberadamente apresentar nos meus livros, a resposta é não. Não vejo necessidade de imposições das idéias "feminino" e "masculino" como contendoras - são existências altamente complementares, são princípios indissociáveis. Quanto ao escritor e sua habilidade, Henry James criou maravilhosos personagens femininos, Hilda Hilst, personagens masculinos muito complexos - assim a sensibilidade do artista parece ser assexuada.
Para quem daria um Nobel de literatura? Por quê?
LC - Ressuscitando-a, para Gertrude Stein; absolutamente genial, séria, inovadora e muito superficialmente conhecida.
Radicam, antes, dentro de seu próprio espírito
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Velar como rastreamento de uma experiência futura
Rondando a área adversária como um jaguar
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Ter recebido não sei de onde aquilo de que sou autor
Eugène Atget, Magasin, avenue des Gobelins, 1922
terça-feira, 11 de maio de 2010
Onde achar outra?
Uma questão de compasso
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Copiosas cópias
Edith Dekyndt, Ground Control, 2008
A cultura do carbono no paralelo 4