Sobre uma foto de F. aos vinte anos
O mar, o píer, a moça e seus descalços,
Na luz da tarde que brota de seus olhos,
Os pés pisando as tábuas em falsos
Passos: ela flutua acima dos abrolhos.
Tudo converge para o xis dos braços
Onde de novo o dia nasce em portefólio—
Como se conseguisse os próprio traços
Da água da tarde, logrados em espólio.
Ela está onde a cidade se equilibra
Sobre o mar com um petroleiro à deriva
Num sem andar que move mais que a vida—
A resolução da foto não retem sua fibra.
Nela, tudo balé, milagre, céu, saliva,
E, atrás, o Atlântico é só sua jazida.
Nota – o único texto não ilustrado deste blogue vai para aquela que, em beleza e continuidade, às vezes no empuxo de horas extraordinárias, soube acolher em seus braços as promessas e os fracassos de uma vida. Na verdade, este poema é um pouco a admissão de um contrasenso, pois, como diz o de Stratford: "conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse te esquecer."