Joe Tilson, 1977
Canis Minor
-A poet? You should write a nice poem about my dog
A poem's no lapdog:
he's dry, bisects the gravel road
like a little headstone.
His tongue erupts from his head
and lithifies. Pumices his butt
and exfoliates my elbow.
I'm reading this book about the cane-fields:
they believed if a slave looked you in the eye
you'd die. He winks at me and blinks
at me, falls back on his haunches
like a telescope, trained
on Procyon and rising Gemini.
Jen Hadfield
Cão Menor
–Uma poeta? Devia escrever um belo poema sobre meu cão
Um poema não é um lapdog:
é seco, bissecta a via de calçamento
como uma pequena lápide.
Sua língua emerge da cabeça
e litifica-se. Pomifica os couros
e esfolia-me o cotovelo.
Ando lendo esse livro sobre canaviais:
Crêem que se um escravo te olhar no olho
Te mata. Ele meneia para mim
e pisca, recai sobre as ancas
como um telescópio, versado
em Prócion e criando Gêmeos.
* * *
Five Thirty Sixish
Day in day out this land is chafed by light
'til five thirty sixish,
it's bald as old sandpaper, showing its hide.
So make the most of loneliness. Hang
your head to one side like a sainted donkey,
tears crystallised on dense sweetheart lashes,
hang your head like a kid in a tree-fort
hearing her weird name called and called
it might be towhee, towhee, across the evening,
hang your head and squinting, sing,
old english ballads about bewildering
betrayals, murder and burgundy,
down in the willow garden.
Jen Hadfield
Cinco e Trinta e Séxima
Dia sim, dia não, esta terra é batida de luz
até cinco e trinta e séxima,
calva como lixa velha, exibindo o capuz.
Então, aproveite bem a solidão. Deite
a cabeça para o lado, como beatífico burro,
pranto condensado em densos, doces cílios,
deite a cabeça como criança numa casa-de-árvore
ao ouvir seu nome fatal ser chamado e chamado
como tentilhão, tentilhão, noite adentro,
solte o pescoço e zarolhando, cante,
velhas baladas inglesas sobre encantes,
traições, assassinos e borgonhas,
pelo jardim dos salgueiros.
Nota – a poeta Jen Hadfield (1978) ganhou anteontem, 11 de janeiro, o prestigioso prêmio T. S. Eliot de poesia, na sua edição de 2009, por seu livro Nigh-No-Place [Rente-a-Nenhures]. O prêmio já foi atribuído a nomes como Seamus Heaney, Ted Hughes, Paul Muldoon e Hugo Williams. Apesar de ser inglesa, de Cheshire, Hadfield morou alguns anos no Canadá e vive atualmente na Ilhas Shetland [arquipélago no extremo norte da Escócia]. Atribui-se a ela grande domínio no emprego de elementos da natureza em sua poesia. Em Nigh-No-Place, segundo volume de poemas de Hadfield, ela esboça uma comparação entre paisagens do Canadá e a inóspita natureza das Ilhas Shetland, cujo desolamento é quase polar. Hadfield é até aqui, entre todos os premiados pelo T.S. Eliot Prize, a mais jovem a recebê-lo. No primeiro poema, segundo verso, ela talvez haja buscado uma analogia entre lapdog [cachorro-de-colo] e o termo da informática laptop [computador-de-colo]. Na tradução, pusemos, um tanto artificialmente, lulu, que aponta, em português, para um cão pequeno, de colo, decorativo, como no contexto do poema.