Almada Negreiros, Retrato de Fernando Pessoa, 1954
Pessoa sobre o tédio
Sobre o tédio diz Pessoa:
"É uma bebida de não ser nada, e a vontade é um balde despejado para o quintal por um movimento indolente do pé à passagem".
Ou ainda:
"Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de sentir que não vale a pena fazer nada. E, sendo assim, quanto mais há que fazer, mais tédio há que sentir".
* * *
Ruy,
ResponderExcluirSobre Pessoa e Drummond, tenho opinião formada (e antiga). Drummond é um excelente cronista e, às vezes, um grande poeta - notadamente nos livros até Claro Enigma. Já Pessoa, bem, Pessoa é o "suprapoeta", como ele mesmo assinala no texto em que se apresenta como aquele poeta que irá encerrar o ciclo de Camões no horizonte da poesia portuguesa. Há mesmo uma "sintaxe pessoana", com inversões próprias, um jeito novo e intransferível de produzir oxímoros. Sobre boa parte disso, o próprio pessoa discorre no Livro do Desassossego, do semi-heterônimo Bernardo Soares.
Grande abraço,
Cláudio
PS: sigo lendo sempre o seu Afetivagem.
Muito bacana ler essas coisas que você escreve.
ResponderExcluirHouve um tempo que também pensei que Drummond sabia mais de mim que até eu mesmo, de tão enraizado que estava em seus versos. Depois outros vieram e me levaram e me comoveram.
Ferreira Gullar me coloca contra a parede e seu espelho é meu reflexo. Depois veio Adélia Prado dizendo que aos 40 anos não queria nem a faca, nem o queijo:
"Eu quero é a fome!"
Como escapar de um verso assim?
Shelley, Keats, Whitman, Auden. Quantos me denunciaram? Casimiro de Abreu sabe das coisas. Omar kahayyam nunca mais me deixou tomar vinho à toa. E Vinícius e aquela balada das duas menininhas de Botafogo?
Como andar pela Praia de Iracema sexta feira à noite e não lembrar de Vinícius e das menininhas?
Tudo aqui nessa cidade nos denuncia. Aliás, toda escrita é autodenúncia.
Essa aqui já é uma.
Passa lá no traquejo, lá tem mais: http://traquejo.blogspot.com/
Abração.