quarta-feira, 19 de maio de 2010

Linda em todos os particulares: Creeley


Gerhard Richter, Sea Landscape, 1971




MAZATLÁN: MAR



[...]


Bem aqui-

começa



BOBBIE



Louca carinha

de lontra na água---

quadris largos. A alva,

alva pele---uma mulher

de orelhas grandes,

dentes quase brutais---

linda em todos os particulares.


*


De outro modo---os olhos

escuros, no rosto o

ardor de alguma outra

experiência, adensando

no ar.


*


Ah---homem

pensa.


..................................


*


De como o fato de

entrever alguém que você ama longe

de você no tempo

desaparecerá também no tempo.



..................................



*


Todos eles andavam

pela praia

robustos, ou miúdos,

mutilados, na face

da terra.


*


O vento segura

minha perna como


uma mão morna.


*


...........................


*


Ninguém vive na

vida do outro---

ninguém sabe.


No singular

o muito adere,

mas não para sabê-lo.


Aqui, aqui, o corpo

berrando suas ordens

aprende de si.


*

..................................



*


O que você tem

da princesa---

orelhas grandes, pra ouvir

mãos com suaves dedos


Você cavalgará

para a floresta, e lá

a encontrará

E vai reconhecê-la.


Por que não uma outra

não esperada, alguma

linda presença súbito

declarada


Tudo na tua mente

o corpo é, e do

corpo como assim

você a faz.


*


..................................



*


Você vê o sola-

vanco, na rija

compleição, o

garoto---o animal tenso



golpeado, e atrás,

o mar move e

acalma. A ilha assenta

em seu imóvel conforto.



O que, na cabeça, dá errado---

o circuito de repente

carregado de contrários

e só o tempo resta.


*


O sol desce. Os banhistas

assomam negro no vislumbre

prata. A água marulha

e reflui. O ar é suave.



[Fragmento do poema longo "Mazatlán: Sea", de Robert Creeley]


* * *


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