quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quem pode ter um rumo?

Lyonel Fininger, Ye Learned Apothecary, 1901

O Forasteiro

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Eu não conhecia bem a cidade e tinha de chegar à Rodoviária. Talvez porque sentisse certo atraso, caminhava apressado, com uma mala de rodinhas. O guincho das rodinhas abatia-se sobre a rua como uma campainha. A hora começava a ermar. A caminho, algo não batia com o mapa virtual, no celular. Então notei, próximo, dois guardas:
Por favor, qual é o rumo da rodoviária?
O senhor quer saber o rumo? – um deles disse com uma expressão séria.
É a intenção.
E ao cotovelar o outro:
Este senhor quer saber o rumo, Garcia. Este senhor quer saber o rumo.
Tanto riram juntos que um deles teve de tossir para desenredar o fôlego. E então, semi-recomposto, o que não era o Garcia disse:
Meu Senhor, desista. Quem pode ter um rumo numa noite dessas?



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