Intrepidez ou o Coração como Filme B
–Da importância de tomar decisões
É, e no fim há uma liberdade. Aquela que se morre de medo de implicar em decisões. E aquela pela qual se morre. Porque se tem o arbítrio de tomá-las. E a tomada demanda bem mais que um capricho ou uma volubilidade – estas sim, coisas mais de espíritos mimados, de chatos da vez. E porque também se reconhece que o efeito dessas resoluções é muito mais crônico. Mais político – no bom sentido, no único sentido do termo que vale a pena. É um parti pris. É de tomar partido. E não como se toma sorvete ou ônibus. Porque isso de ônibus e sorvete é quase automático. Há sabores já previamente feitos pela tua seleção natural de sabores e que sabem tão bem às tuas papilas gustativas; e há linhas já previamente determinadas pela engenharia de trânsito de tua cidade, cujos itinerários batem mais ou menos com o da tua casa, do teu trabalho, da tua faculdade, com o do teu mapa no meio do mundo. Há receios, riscos, trizes, temores, porque cada vez mais somos educados para pensar-nos incapazes de tomar decisões, uma vez que tudo é relativo e não se pode tirar conclusões. Então, que outras cabeças sejam pagas – e por vezes, muito bem – para tomar decisões por nós: o deputado, o juiz, o advogado, o psicanalista, o urbanista, o professor, o padre, o curador, o arquiteto, o pai-de-santo, o nutricionista, o médium. E, porém que se fale, aqui e sim, de tomar decisões conscientemente.
Como se reza ou se diz a uma amiga o quanto às vezes a solidão pesa.
Meio como se não tomar isso para si fosse deixar as coisas do coração bater à toa, à revelia; e receber um tratamento de filme B.
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