[s/i/c]
O Veranista
Porque queria ir para longe daqui, disse ao mecânico que me aprontasse o carro para o sábado. Ele, parece, não entendeu. E lá tive eu de ir pessoalmente à oficina. E verificar o que faltava: novas pastilhas de freio, um spoiler mal fixado, o nível do óleo. Sujei as mãos na graxa. E ele me repassou um maço encardido de estopa:
–O senhor vai para onde?
–Para longe daqui – respondi.
Com um meneio, ele riu complacente, e olhou-me de esguelha:
–Mais fácil é um touro parir uma ninhada de angorás.
Depois saí com meu carro. Senti o ronco do motor, seus muitos cilindros. Vai ser uma viagem e peras. Quando, enfim, cheguei em casa, lembrei-me do molinete e da lata com as iscas. E, ao começar a pôr as coisas no bagageiro, disse o vizinho:
–Para onde você vai mesmo?
–Para longe daqui.
–Longe daqui? – ele riu condescendente – é mais fácil um camelo passar pelo fio de uma agulha.
* * *
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