sábado, 14 de maio de 2011

Havia um eclipse nos olhos de meu avô

[s/i/c]



O Eclipse

Meu avô, que não era supersticioso, não gostava de eclipses. No grande eclipse de 73, que se deu próximo ao pôr-do-sol, enquanto todos observavam:
Parece que o Joaquim Veras está fazendo uma queimada no terreno – disse ele.
Pensando melhor, havia um eclipse nos olhos de meu avô. E, se não soubesse desde criança que sua vista era de aos oitenta anos manejar velhos selos sem o auxílio da lupa, diria que ele trazia nos olhos algo da córnea opaca dos cegos.
Mas isso de eclipse era talvez uma das raras coisas que ele não queria ver.
Outros não viam em demasia.


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