sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Pêssegos se desmantelam

[s/i/c]



ao que cala

o elevador sobe. sobe sobre o panorama do shopping. há uma cárie na cidade, e dentro dela todos os gramas de medo. há um mamute no mercado, no ventre dele o teu filho. há uma forma de ter rei: outorgar a carta ou o nada. taças e jarras tremem na cristaleira à passagem do mamute. é quando equilibra-se a lágrima na ponta do queixo. e ela te nina, tão brandamente. e, se o acaso ao caso fosse, viria o sono, viria a sina, finos como o cristal. vítreos como o rio. rio depois das chuvas. algo em que se fiar. e dentro do sonho haveria um menino pedindo para sair. um menino que ainda não aprendeu a mentir direito. e está preso no ventre do mamute. no poço da cárie de teu medo. na barriga dos que têm um rei. na carta não outorgada. no leito do rio depois das chuvas. em abril de dois mil. de dois mil e nada. subindo pelo elevador panorâmico. na contraluz do néon. na cristaleira do oco. na cristaleira do sonho. na cristaleira da veia. e mesmo nessa redoma, ele jamais verá a luz. ele apenas demora. um pouco. e era só para dormir. mas quem está aí? andares. e logo tudo se desfecha. os ferrolhos do corpo destravam. pêssegos se desmantelam. o peixe no olho ao ar livre.

e foi quando ele e o sangue se tornaram um só.


* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário