domingo, 28 de novembro de 2010

Let's write something, let's sing

[s/i/c]




Três Truísmos

I.

É simples. Quer escrever ficção? Leia ficção. Quer escrever poesia? Leia poesia, escute música. Quer escrever ensaios, crítica? Leia poesia, ficção, história, um pouco de filosofia, estética, etnologia... Quer traduzir? 

Leia um pouco de tudo. Leia até fotonovelas, se elas ainda existirem.

Mas antes.

Antes, é preciso viver.

É preciso viver com intensidade. E saber que a vida tem um fim. Não há qualquer possibilidade de se viver intensamente sem pensar na morte.

II.

Se há sensações que são inalcançáveis pelas palavras? A vasta maioria delas. Porém a palavra, com todas suas limitações, é a porta no muro por onde se pode partilhar sensações. E arte se faz desse partilhamento – o que passa longe de dizer comunicação. A música, mesmo composta de sons inarticulados em sílabas, sugere frases: uma sintaxe. Pode-se adivinhar palavras por trás de sons, timbres, tons, dinâmicas, contrapontos, crescendos... Quase o mesmo se pode dizer da pintura.

III.

No Ocidente, grosso modo, os músicos e os filósofos falam alemão; os pintores são flamengos; os escritores (e a música pop), britânica; Cervantes e o sentimento do trágico, espanhol; o espírito do romance, provençal e italiano; a raiz do ensaio, com Montaigne, francês; o sentimento do épico e o excedente de perda (via sebastianismo), paradoxalmente, português. E quanto às Américas? As Américas são o liquidificador que processa tudo isso com extrema versatilidade. É o local em que, não por mitos de bons selvagens, mas pela proximidade de uma natureza menos domada pelo homem – assim como por uma maior mestiçagem – a literatura canta ao invés de soletrar. A América aponta para a concretude. O mundo existe mais por aqui. É menos uma solipsia. Uma invenção da mente. Uma metafísica.

* * * 

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