domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dois Prismas sobre Benjamin



O assomar do desejo realizado

Assinalar Walter Benjamin é caracterizar seu estilo. Entre todos os textos que buscam uma caracterização de Benjamin escritos por seus amigos e colaboradores, o mais belo e lúcido – e também o mais rigoroso, exacto – vem a ser “Um Retrato de Walter Benjamin”, de Adorno. E olha que belos textos sobre o ensaísta berlinense não faltam. Como atestam os artigos de Gerschom Scholem (em vários momentos) e Hannah Arendt (em Homens em Tempos Sombrios). Vejamos como Adorno trata a ensaística em geral - e a ensaística de Benjamin em particular - em dois tempos que podem ser lidos como cristais ou prismas:

i
[O entremeio do argumento]
O como da expressão deve socorrer, em exactidão, o que a recusa às linhas gerais sacrifica, sem, contudo, entregar o tema visado à arbitrariedade de significações previamente decretadas. Nisto, Benjamin foi um mestre inigualável. Essa precisão contudo não deve permanecer atomizada. Não menos importante, mais que o processo de definir, o ensaio convoca a interação recíproca de seus conceitos no processo da experiência intelectual. No ensaio, os conceitos não constroem um continuum de operações; embora não avancem numa direção única, ao reverso, os aspectos do argumento entremeiam-se como num tapete.
[ADORNO, Theodor W., “The Essay as Form”, in The Adorno Reader, (translated by Brian O'Connor), Oxford (UK) and Malden (MA): 2002, p. 101,]


ii
[literalmente para a realização do desejo]
Tudo o que Benjamin disse ou escreveu soa como se, ao invés de rejeitar as promessas dos contos de fada e dos livros infantis em nome de uma usual e infame 'maturidade', ele as tomasse tão ao pé da letra que a própria realização [ou presentificação] do desejo surgisse então à vista do conhecimento.
[ADORNO, Theodor W., “A Portrait of Walter Benjamin” in Prisms, (translated by Sherry Welber Nicholsen and Samuel Weber), Cambridge, MA: 1981, p.230]


Para mais Benjamin em Afetivagem, aqui.

2 comentários:

  1. Preciso rever toda essa teoria, uma vez que peguei D.P. na faculdade justamente por causa de Adorno.Por conta do livro organizado por Gabriel Cohn: Comunicação e Indústria Cultural.Acho que vou pegar o livro na estante e dar uma boa lida :o)

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  2. é, adorno não é fácil. mas é muito bom. me lembro dessa coletânea de textos organizada pelo cohn. :)

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