Ciro
Gomes podia ter fatiado melhor porção no bolo político não fosse
a incontinência verbal. A última observação desastrada foi sobre
o irmão haver negociado com policiais grevistas. O tom usado para referir-se aos policiais em greve foi além da civilidade que se espera de um homem público. Hoje parece claro
haver sido uma decisão acertada, a negociação. Estratégica até. Basta comparar
com a situação na Bahia. Fortaleza sai no lucro.
Medo.
Ruas vazias. Voos e espetáculos cancelados. Aulas adiadas. Comércio
fechado. Bloqueios de ruas. Tropas do exército na orla e em torno da assembleia. Balas
de borracha. Arrastões. Pessoas feridas. Saques. Tiroteios. Mortes. Incertezas no calendário. O arranhão à imagem
da cidade de Salvador à véspera de seu grande evento turístico, o
Carnaval, segue sendo imenso. Não tem remendo. Daqui para diante
pode apenas aprofundar-se. E tudo indica ainda mais drama, desgaste. A Embaixada Americana já alerta seus cidadãos a evitarem ou cancelarem viagens à Bahia.
Ressalte-se, no entanto, que este último fato, embora um dado a ser tomado no plano econômico - pois turismo é importante em qualquer lugar do mundo - oculta um tanto, na mídia, outro fato: a população mais atingida é a local. E em especial sua classe média, que é já maioria. Mas não é ouvida. Não tem presença efetiva na mídia que, quando cobre o Nordeste, prefere ir à favela. Quer dizer, gente que é em bem maior número que turistas, e praticamente não aufere de nenhum eventual benefício que os turistas trazem. A não ser certos transtornos: praias mais lotadas; custo de vida mais elevado; ruas sujas e emporcalhadas; trânsito restrito e ainda mais caótico; aumento do consumo de drogas, da violência, da degradação do meio-ambiente; etc.
Desse modo, ao invés de aferirmos mal-estares, como as atuais greves de polícia, pelo fluxo de turismo desviado (ou não) - como a mídia insiste em fazer - devemos medi-los, sobretudo, pelos reais transtornos causados às populações locais. Especialmente as do Nordeste, onde se criou uma espécie de mito um tanto idiota: a economia da região deve girar em torno do turismo. E não deve ser assim. Deve girar em torno de serviços, de indústrias, do agronegócio, e eventualmente também do turismo - diversificada e competitiva.
Ressalte-se, no entanto, que este último fato, embora um dado a ser tomado no plano econômico - pois turismo é importante em qualquer lugar do mundo - oculta um tanto, na mídia, outro fato: a população mais atingida é a local. E em especial sua classe média, que é já maioria. Mas não é ouvida. Não tem presença efetiva na mídia que, quando cobre o Nordeste, prefere ir à favela. Quer dizer, gente que é em bem maior número que turistas, e praticamente não aufere de nenhum eventual benefício que os turistas trazem. A não ser certos transtornos: praias mais lotadas; custo de vida mais elevado; ruas sujas e emporcalhadas; trânsito restrito e ainda mais caótico; aumento do consumo de drogas, da violência, da degradação do meio-ambiente; etc.
Desse modo, ao invés de aferirmos mal-estares, como as atuais greves de polícia, pelo fluxo de turismo desviado (ou não) - como a mídia insiste em fazer - devemos medi-los, sobretudo, pelos reais transtornos causados às populações locais. Especialmente as do Nordeste, onde se criou uma espécie de mito um tanto idiota: a economia da região deve girar em torno do turismo. E não deve ser assim. Deve girar em torno de serviços, de indústrias, do agronegócio, e eventualmente também do turismo - diversificada e competitiva.
De outro modo, comenta-se
que a queda de braço entre o governador e os policiais tem muito a
ver com injunções internas da política baiana. É complicado. A
Bahia viveu décadas sob o tacão de Antônio Carlos Magalhães. Sua
herança funesta em termos de estruturação do poder, nos mais
diversos níveis – tribunais, câmaras, cargos de chefia - não vai
se elidir em tão pouco tempo.
Tampouco
o atual governador, Jaques Wagner (PT), parece agir com mínima lucidez ou bom-senso. O
fato de se encontrar em Cuba quando do início da greve diz muito de
sua inabilidade. Aliás, o que um governador brasileiro faz em Cuba
às vésperas do principal evento turístico de seu estado e com
policiais em pé de greve? Não dispunha de informação sobre o que
se passa em seu quintal? Não sabe que cubanos não viajam para o
exterior? O fato de alegar que havia concedido um aumento de 6,5% não é propriamente um álibi.
Ressalte-se
que no vizinho Sergipe, o salário de um policial em início de
carreira é mais de R$ 3.000,00 – o segundo mais alto do país,
depois do Distrito Federal. E quase mil reais a mais que na Bahia. Segundo os aracajuanos, vem brasileiros
até do exterior prestar concurso para a polícia local. Ora, essa concorrência, em si, já contribui para acrescer um melhor nível à polícia. E,
convenhamos, a situação de Aracaju é ainda plácida se comparada
às duas capitais mais próximas. Mas em boa medida é plácida, porque, entre outras, a polícia é bem remunerada. Como deve ser.
De
outro modo, o crime organizado segue em franca migração de São
Paulo e do Rio para o Nordeste. E é uma pena que não haja uma
vontade política para tentar esvaziar esse fluxo. Quer dizer,
uma vontade política coordenada. Que percorra o Nordeste inteiro. O
resultado disso vai-se sentir com mais força nos próximos anos. Mas
já se sente de momento. Maceió, por exemplo, com pouco mais de um
milhão na zona metropolitana, é já uma das cidades mais violentas
do planeta. Salvador não fica muito atrás.
As
greves na polícia, que estouraram em vários estados do Nordeste, um
tanto em cadeia, reivindicam equiparação salarial ao restante
do país. Mas também se dão pela precariedade de condições de
trabalho e maior risco diante de um crime organizado que não cessa
de se estruturar à margem, com grande velocidade e eficácia.
Quando a polícia entra em greve os gatos ficam mais pardos. E ao
que tudo indica, depois de Maranhão, Ceará e Bahia, serão os
policiais do Rio as pedras da vez no dominó da paralisação. A segurança pública precisa ser repensada, porque, evidente, nenhuma população pode seguir segura se quem provê segurança pode, a qualquer momento, entrar em greve. E não só isso. Pois sabemos dos mecanismos de pressão e de eventuais táticas utilizadas por grupos ligados aos sindicatos.
Nenhuma flor, nenhum cheiro. Ou, mais que isso, nenhum santo ou mocinho à vista. Nem do lado dos grevistas, muito menos contra.
NOTA POSTERIOR - Sobre a cobertura da imprensa, o que ficou claro: Maranhão e Ceará, que tiveram greves anteriores, existiram muito pouco na mídia. Mesmo que a greve dos policiais em Fortaleza coincidisse com o Ano Novo e, logo, inspirasse algum temor. Que 1,5 milhão de pessoas haja se reunido para um espetáculo no Aterro da Praia de Iracema, sem sequer um incidente grave, durante uma greve policial, foi um espetáculo, verdadeiro atestado de civismo. Nenhuma linha sobre isso nos jornais locais. E as greves do Maranhão e Ceará não existiram sequer em sites importantes como o da BBC Brasil, por exemplo. Embora uma reportagem no New York Times de hoje [10.02] as mencione retroativamente e com um erro: apontando greves, prévias à da Bahia, no Ceará, no Pará. Na verdade, foi no Maranhão, não no Pará. Desenrolar e desfecho da greve em Fortaleza, no entanto, foram bem mais ordeiros que na Bahia, o que em parte justifica o silêncio da mídia, à época (Entrada de Ano). A greve de Salvador, por seu turno, foi amplamente acompanhada pela Globo desque um evento chave para a emissora estava em jogo: o Carnaval. E vai ser o mesmo com a greve do Rio, que começou ontem [09.02] e já era crônica anunciada. O risco, aqui, é o de as gravações exibidas no JN haverem impingido não só a alguns líderes grevistas, mas a todos os policiais envolvidos, a pecha de de baderneiros e arruaceiros. Pois um jornalismo plano como o do JN tem de achar um bode expiatório. Ou jamais informar devidamente que há uma situação crônica, de risco, se arrastando por décadas. Feixe de interesses em jogo de ambas as partes: autoridades, grevistas. E, não menos, interesses da própria Globo, ansiosa por ver seu adorado Carnaval escapar incólume. A Globo é a perfeita anti-BBC do Brasil. E quem confia nela, amarrou seu cavalo com corda de capim.
Nenhuma flor, nenhum cheiro. Ou, mais que isso, nenhum santo ou mocinho à vista. Nem do lado dos grevistas, muito menos contra.
NOTA POSTERIOR - Sobre a cobertura da imprensa, o que ficou claro: Maranhão e Ceará, que tiveram greves anteriores, existiram muito pouco na mídia. Mesmo que a greve dos policiais em Fortaleza coincidisse com o Ano Novo e, logo, inspirasse algum temor. Que 1,5 milhão de pessoas haja se reunido para um espetáculo no Aterro da Praia de Iracema, sem sequer um incidente grave, durante uma greve policial, foi um espetáculo, verdadeiro atestado de civismo. Nenhuma linha sobre isso nos jornais locais. E as greves do Maranhão e Ceará não existiram sequer em sites importantes como o da BBC Brasil, por exemplo. Embora uma reportagem no New York Times de hoje [10.02] as mencione retroativamente e com um erro: apontando greves, prévias à da Bahia, no Ceará, no Pará. Na verdade, foi no Maranhão, não no Pará. Desenrolar e desfecho da greve em Fortaleza, no entanto, foram bem mais ordeiros que na Bahia, o que em parte justifica o silêncio da mídia, à época (Entrada de Ano). A greve de Salvador, por seu turno, foi amplamente acompanhada pela Globo desque um evento chave para a emissora estava em jogo: o Carnaval. E vai ser o mesmo com a greve do Rio, que começou ontem [09.02] e já era crônica anunciada. O risco, aqui, é o de as gravações exibidas no JN haverem impingido não só a alguns líderes grevistas, mas a todos os policiais envolvidos, a pecha de de baderneiros e arruaceiros. Pois um jornalismo plano como o do JN tem de achar um bode expiatório. Ou jamais informar devidamente que há uma situação crônica, de risco, se arrastando por décadas. Feixe de interesses em jogo de ambas as partes: autoridades, grevistas. E, não menos, interesses da própria Globo, ansiosa por ver seu adorado Carnaval escapar incólume. A Globo é a perfeita anti-BBC do Brasil. E quem confia nela, amarrou seu cavalo com corda de capim.
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