sábado, 16 de maio de 2009

Não, agora é só uma galinha


Luís Buñuel, Esse Obscuro Objeto do Desejo, 1977




Ilustração de Augusto Pontes


por Augusto César Costa


Anos 70, sábado, 10 horas, sessão do Cinema de Arte no Cine Diogo. O filme era de Luis Buñuel. Augusto Pontes sentado sozinho numa das fileiras de poltronas. Na fileira à sua frente um casal de namorados, ansiosos por entender as tramas surrealistas de Buñuel. Eis que numa cena aparece em primeiro plano uma galinha. Os namorados começam a cochichar, tentando entender o significado. Augusto se impacienta com o colóquio e diz: “Isto não é uma galinha, é um símbolo”. Os jovens silenciam assustados, mas gratos pelo esclarecimento. Cenas adiante aparece novamente a tal galinha. A jovem, toda excitada cutuca o namorado: “Olha aí, o símbolo!”. Augusto, irritado com a conversa, semeia a confusão epistemológica: “Não, agora é só uma galinha”.


* * *

2 comentários:

  1. Que maravilha!

    E que presença de espírito! Há três coisas a ressaltar:

    1. O cearense quando vai ao cinema sozinho, parece ir em desvantagem "moral" diante de quem vai em grupo ou de um casal. Como se fosse um "consumidor" de segunda classe do produto. Um vira-lata.

    2. Se faz muito barulho nas salas de cinema em Fortaleza.

    3. A inversão de Augusto é um misto de reprimenda e inteligência.

    Parabéns! Por ambos os posts. Este e o que segue abaixo.

    Forte Abraço,

    Júlia Vasconcelos

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  2. "Vida, vento, vela, leve-me daqui..." :)

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