Raymond Duchamps-Villon, Les Amants, 1913
Nove espasmos sobre a trilogia Rabbit, de John Updike
Assemelha-se com aqueles romances escritos em série, ao modo do sec. XIX.
Sexo parece ser a obsessão de Updike, meio como o eixo central de uma espécie de teodicéia, de procurar o eixo do mal num mundo supostamente criado pela bondade.
A dureza das palavras calcada na dureza das pessoas e que se verte de modo quase usual e corriqueiro. Como uma teia entre os personagens.
Um mundo de pessoas feias salvo pela beleza da própria paisagem á volta. É este o double-bind da mundividência de Updike.
Rabbit, o protagonista, é estreito enquanto alguém que pensa. Seu pensamento abstrato cai gotejando muito esparsamente ao longo de um cotidiano concreto, sem abstrações que incluam a idéia de um Deus.
A tendência dos narradores modernos é fazer os maus triunfarem ao final como um denúncia do mundo moderno. Mas Updike demonstra mais apreço pelos maus que pelos tolos.
O cultivado auto-distanciamento de Updike como máscara – o que o contrapõe a autores como Irving ou Roth.
A popularidade de Updike entre os americanos é assemlhada à de Larkin entre os ingleses. Eles se reconhecem como um deles, se vêem no meio de seus personagens, de sua sensibilidade. Updike é alguém que fala para o mundo americano à boca pequena. Mais ou menos como Aníbal Machado fala ao Rio antes de falar ao Brasil. Ou Alcântara Machado a São Paulo. Ou Simão Lopes Neto ao Rio Grande do Sul. Ou Gustavo Barroso ao Ceará - ao menos em seus livros de memória e etnologia (mas também no romance Mississipi).
O americano médio, se existisse, identificar-se-ia com Rabbit. Com algo do pequeno patife que há em Rabbit. Sua ausência de grandeza. Seu pragmatismo e desejo de conforto. O impulso de tomar o sexo como um valor religioso monadológico. Como conveniência, comodidade. É isso que inverte Orson Welles, em Updike. Que o deixa mais próximo do humor de Billy Wilder, desdobrando-se de uma situação corriqueira, como em Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment, 1960). Ou, de modo mais corrosivo em Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950).
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