sábado, 23 de maio de 2009

Eu colecionava tampinhas pelas coxias: Brasil Jr.


[s/i/c]



Nixon sob os oitizeiros


A Ruy Vasconcelos


Nixon nos encarava triste, sem rancor pela TV Colorado.

Entre pessoas de meia idade comentava-se: “só lhe restam as meias.

Os sapatos lustrosos foram confiscados pelos congressistas", disse a Maggy.

De alguma maneira comovia-me a despedida de Nixon, o anti-herói. Alguém que envergonhava John Wayne e os rapazes no Camboja.

Passei a sonhar com enormes borboletas que resgatariam Nixon para uma casa de verão em Cape Cod.

Em agosto, meu pai resolveu fazer uma rápida visita ao Cura D´Ars, saiu sem que ninguém percebesse. Nunca mais voltou.

Voltei a lembrar de Nixon. Os milicos incensavam Caxias na praça da Bandeira. O bispo afagava-me o cocuruto, eu colecionava tampinhas pelas coxias.

Volto a sonhar com enormes borboletas, atravessando poderosas a Costa Barros, enquanto Nixon e meu pai conversam animadamente sob os oitizeiros.

-O menino anda meio esquisito ultimamente, talvez seja melhor chamar o Padre Moreira.

O jesuíta obrigou-me ler em dias alternados a Carta de Paulo aos Coríntios.

Esqueço o amor paulino, volto a TV Colorado, agora com a certeza de que Leivinha e Marinho Peres derrotam a Laranja Mecânica. Em vão.

Depois do Cruiyff e do Watergate nunca mais fui o mesmo.


Aldir Brasil Jr.


* * *

3 comentários:

  1. vasconcelos, aproveito seu blog para elogiar esse belo poema em prosa (estará correta minha definição?) de aldir!

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  2. Nilto Maciel21/1/12 9:39 AM

    ISTO É QUE É LITERATURA DE PRIMEIRA.

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