[s/i/c]
Nixon sob os oitizeiros
A Ruy Vasconcelos
Nixon nos encarava triste, sem rancor pela TV Colorado.
Entre pessoas de meia idade comentava-se: “só lhe restam as meias.
Os sapatos lustrosos foram confiscados pelos congressistas", disse a Maggy.
De alguma maneira comovia-me a despedida de Nixon, o anti-herói. Alguém que envergonhava John Wayne e os rapazes no Camboja.
Passei a sonhar com enormes borboletas que resgatariam Nixon para uma casa de verão em Cape Cod.
Em agosto, meu pai resolveu fazer uma rápida visita ao Cura D´Ars, saiu sem que ninguém percebesse. Nunca mais voltou.
Voltei a lembrar de Nixon. Os milicos incensavam Caxias na praça da Bandeira. O bispo afagava-me o cocuruto, eu colecionava tampinhas pelas coxias.
Volto a sonhar com enormes borboletas, atravessando poderosas a Costa Barros, enquanto Nixon e meu pai conversam animadamente sob os oitizeiros.
-O menino anda meio esquisito ultimamente, talvez seja melhor chamar o Padre Moreira.
O jesuíta obrigou-me ler em dias alternados a Carta de Paulo aos Coríntios.
Esqueço o amor paulino, volto a TV Colorado, agora com a certeza de que Leivinha e Marinho Peres derrotam a Laranja Mecânica. Em vão.
Depois do Cruiyff e do Watergate nunca mais fui o mesmo.
Aldir Brasil Jr.
* * *
vasconcelos, aproveito seu blog para elogiar esse belo poema em prosa (estará correta minha definição?) de aldir!
ResponderExcluirISTO É QUE É LITERATURA DE PRIMEIRA.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluir