segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sou tudo o que você não teve: Larkin


Jac Leiner, 2009


Money


Quarterly, is it, money reproaches me:

'Why do you let me lie here wastefully?

I am all you never had of goods and sex.

You could get them still by writing a few cheques.'


So I look at others, what they do with theirs:

They certainly don't keep it upstairs.

By now they've a second house and car and wife:

Clearly money has something to do with life


- In fact, they've a lot in common, if you enquire:

You can't put off being young until you retire,

And however you bank your screw, the money you save

Won't in the end buy you more than a shave.


I listen to money singing. It's like looking down

From long French windows at a provincial town,

The slums, the canal, the churches ornate and mad

In the evening sun. It is intensely sad.


Philip Larkin



Dinheiro


Quinzenalmente, será, o dinheiro me reprova:

'Por que me deixar mofando aqui na cova?

Sou tudo que você não teve de sexo e pileques

E ainda pode tê-los preenchendo uns cheques'.


O que outros fazem dele, é questão curiosa:

Já têm uma segunda casa, carro e esposa.

Decerto, não o mantêm no sótão, feito jazida:

Líquido, dinheiro tem algo a ver com vida.


Ambos têm muito em comum quando se pesquisa:

Mas se você banca a sovinice, acumula divisas,

E, de jovem, desanda a poupá-lo até se aposentar,

Não te paga no fim muito além de um barbear.


Ouço o canto do dinheiro. É mirar do piso superior

Por amplas janelas, numa cidadezinha do interior,

Os casebres, o canal, os brocados da igreja em riste,

Doidos, ao entardecer. É intensamente triste.


* * *

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