quarta-feira, 6 de maio de 2009

Valeu!


[s/i/c]



Teoria do Agradecimento



Em todas as línguas européias modernas, agradecer guarda uma origem religiosa. Quando se diz "Gracias" ou "Grazie", se pode pensar numa frase mais longa, que, no correr dos anos, dos séculos, foi reduzida a uma ou duas palavras - o mundo foi ficando mais frenético. Algo como "Deus lhe cumule de Graças", "Deus lhe dê muitas bênçãos e graças", etc. "Merci": "estou à sua mercê", "graças à sua piedade correu tudo bem". "Obrigado": "minha pessoa se sente obrigada a devolver tão dadivosa graça a você". "Dank", de onde vem "thank", originalmente quer dizer "gratidão" [e, portanto, tem a ver com uma graça alcançada]. Reparem no enlevo moral de todas essas fórmulas, surgidas ou reforçadas na Idade Média e, logo, vinculadas ao cristianismo. Fórmulas que forjam um vínculo, uma obrigação moral diante da generosidade, da prestatividade, do desprendimento do outro.

Mas hoje em dia muitos preferem dizer só: "valeu!" Aqui, também se pode imaginar que se estendêssemos o "valeu", numa lógica oposta às reduções das belas fórmulas antigas, seria algo como: "seu favor valeu 570 reais e uns quebrados, meu caro". Ou então: "seu obséquio valeu o preço de um i-pod, minha prezada". Ou ainda, para se agradecer um grande favor: "pode crer, amigão, o que você fez por mim tem quase o valor do preço de uma Ferrari!".



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