segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Repertório de Natal?

Assis Valente na década de 1930

Que tal Assis Valente, sambista de muito sucesso nas décadas de 30 e 40, nascido na mesma pequena cidade santo-amarense de Caetano Veloso? Baiano mas com todo o suingue, a astúcia e a gíria cariocas. Compositor de “Camisa Listrada”, “Brasil Pandeiro”, e de um sem número de outras canções que cantamos como hinos. Gravado por João Gilberto, Carmem Miranda, Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Chico Buarque, Novos Baianos, Adriana Calcanhoto, Fagner, o próprio Caetano, entre tantos outros. 

(Aliás, a propósito do malogrado fim do mundo (supostamente) Maia, essa deliciosa versão de "E o mundo não se acabou" com a não menos deliciosa Paulinha Toller):




De Santo Amaro, onde foi criado como filho adoptivo, passou a Salvador. Na capital da Bahia, cursou o Liceu de Artes e Ofícios. Em seguida, a reboque de um circo mambembe, o Rio, onde trabalhou como protético e chegou a ganhar alguns trocados como desenhista, antes de compor os primeiros sambas. O famoso Heitor dos Prazeres foi um de seus incentivadores. Depois, foram sucessos encarrilhados. Alguns na voz de Carmem Miranda e consagrados em Hollywood. É lendária sua facilidade tanto para compor sambas quanto para vender-lhes a autoria ao preço de uma rodada de chope.

Assis Valente suicidou-se ao ingerir formicida num banco de praça. Era um fim de tarde tranquilo e quente, março de 1958. No bolso de seu paletó havia um bilhete sentimental. Ele se encontrava endividado até a raiz dos cabelos. Já havia tentado sem sucesso pular do Morro do Corcovado e topado com a má sorte de cair sobre uma copa de paineira, que amorteceu-lhe a queda. Era negro e pobre, uma combinação um tanto letal à época. E, como se não bastasse, em algum lugar também comenta-se de preferências sexuais heterodoxas e mal resolvidas. Tinha 47 anos.

Valente é autor de um tema de Natal, “Boas Festas”, perto de tão popular quanto “Noite Feliz”. Foi composto originalmente para o Natal de 1933 e, portanto, completará 80 anos, em 2013. E não deixa de ser estranho que essa canção seja incluída em coletâneas de música de Natal. E que ao escutá-la na infância, pelo ritmo e a melodia, passe um tanto despercebida, em meio às demais. E só quando chegamos à mais idade venha a percepção de sua distinção, ao atentarmos para a letra.


Poderia ser a versão de João Gilberto. Mas vamos de Maria Bethânia: 




UM FELIZ NATAL PARA TODOS!

Nenhum comentário:

Postar um comentário