quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Seu Estado Animal


 "Like a lizard on a window pane"

E é possível que se a gente visse a casa por dentro, do ponto de vista das bribas, com aqueles ângulos animais (que nem câmeras de segurança flagram, por não móveis e mutantes, ou mais diletantes que controladoras), talvez houvesse mais paz dentro das casas. E nossa visão da criança, brincando num quarto; ou do casal sendo criado pelo amor que criou a criança, noutro quarto; ou do velho na varanda, tossindo e resmungando, enquanto tenta decifrar o smartphone, a sonhar com as formas da empregada; ou da empregada - quase extinta - diante da TV da cozinha ou atendendo o interfone. Seria tão diferente. E inaugural à cada vez. Vista daqueles ângulos que botam olhos na pele das paredes, e em plano sequência. Como quando se enxerga do décimo andar uma praça que só víamos ao rés do chão, passando por ela, em travelling. Percebida, então, com aquele ordenamento que outros ângulo, menos ortodoxos, nos facultam, a casa talvez fosse melhor considerada como o milagre que é. Ou que devia ser. Um milagre de redenção dos conflitos. E que é como criar um novo estado. Um novo modo de estar na terra. 

Um estado animal.

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