segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Verbo Compartilhar




o verbo compartilhar é o verbo da moda. Há anúncios sem conta em que ele é escandido como sugestão: compartilhe!

mas mais que sugestão, é um imperativo. Uma ordem sem progresso: compartilhe, seu filho da puta! 

não importa o que seja. Qualquer porcaria vale: uma informação, um chocolate, uma foto, um câncer, um espartilho, um cair para o lado errado do precipício ou da tarde: compartilhe, seu fi' duma égua!

um soco inglês, um baseado, uma teoria de pós-graduação. E essa questão de ser em grupo não passa por solidariedade, compaixão, altruísmo. Tem outro viés¹ mas nenhum ouvido: compartilhe, seu ban' de baitola!

é isso, agora você percebe. Você, que é todo ouvidos: há nesse partilhamento uma dimensão Big Brother: dividir para controlar, lucrar, selar, vender melhor. Estilhaçar para manipular. Cortar na carne só pelo prazer do magarefe. Esmigalhar gente fraca, (porque o bonito é eugenicamente forte.) Prazer de bater em cachorro morto. Para monitorar desde o painel de controle à velha alavanca. Para moer carne de gente. E melhor deitar o tentáculo sobre o cidadão-sardinha (se é que já cidadão, mas certamente de há muito já sardinha: redeglutido, remoqueado em ônibus, trens urbanos, vans, metrôs. Nas ruas coalhadas de camelôs): compartilhe, caralho!

quando se diz compartilhe! hoje em dia, o conto é: consumir em grupo dá mais lucro que sozinho, seu Vigário

e ponto


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¹Pelas barbas do Profeta, não se pode empregar um termo como "viés", a não ser por sátira àqueles seminários, palestras, simpósios, onde a vida lá fora já foi excluída antes mesmo da largada, apagada na saída, descartada na entrada.

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