segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tudo que vai na voz da conversa traduz algo muito mais súbtil do que pronomes relativos

Öyvind Fahlström, Sketch for World Map Part 1 (Americas, Pacific), 1972


Uma insuficiente reportagem

Há uma forma de errar que é a certa.¹ Vamos, é só uma questão de escolha. É só mais uma forma de errar. A ciência procede assim, munida de uma catedral de métodos: tenta errar o máximo possível perto da verdade – a que só os místicos, iluminados e visionários se aproximam? A maior parte das vezes, no entanto, sabemos, a ciência sequer chega perto dessa aproximação. Ou desvia-se, com maior frequência, aos barrancos e trancos, para uma distância que não se pode medir a gritos. Uma insuficiente reportagem.

Em certas situações de insuficiente reportagem, tudo está posto, menos o que está posto.² Tudo que vai na voz da conversa traduz algo muito mais subtil do que o que desvela:

Você viu e disse para ela. Ela viu com toda a fome de olhos que a terra há de comer. Aquilo tinha o valor de uma sarça ardente. Extinguiria a disputa. O endereço era como você disse. Aquela barbearia que o pai dela costumava cortar o cabelo ficava, como expresso no mapa virtual, na rua que você pensava mesmo que ficava:
–Viu? – disse você, com ar de vitória, o dedo cravado no mapa.
–Mas, menino, até parece – ela retrucou – já não se fazem mais mapas como antigamente.

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¹Aqui pense também 'errar' no sentido de 'divagar'. Justo como você acabou de fazer ao ler esta nota, desviando-se do fluxo do texto em curso.
²E pode-se pensar se Umberto Eco e o finado Deleuze seriam tão criativos conceitualmente para bolar uma expressão que surtisse melhor efeito do que "insuficiente reportagem" no quadro epistemológico arriba.


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