quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Esteve em listas, suspeito

 Gerhard Richter, Seascape, óleo sobre tela, 1998


Clube Náutico


O mar invade o rio
a untar de sal a testa das ondas.

As noites em conchas de luz
e vinho entornado no cristal.

Noites calmas como vidro.
Só assombradas por miasmas.

E nas quilhas de fibra gasta,
já sem o piche, a espuma.

E entre cores trazidas ao guache,
o cristal canta, dedos à borda,

à pressão das primeiras casas.
E então a luz encarnada pisca

e medidas destilam gentileza
comandadas pelo tosco.

Esteve em listas, suspeito de
acompanhar quem pagasse.

Elas correm metrópoles.

O prato principal – era fato, era fátuo –
era de bom tom não declinar.

Embora não passasse de uma
pressão de fibras contra fibras

e uma impressão de gozo.

Antes de suspeitar, ela por pouco
não adivinhou nele gestos de michê,

olhares de ressaca no deque.
E um bolero à toa, a rebocar-se.

Restava o amor, maior que fibras.
E proteger seu nome a boreste.


* * *

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