quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Assim em Areia Branca como em Bertioga, a mesma etérea isca

Capa do single Heavy Cross da banda  Gossip, 2010

Apanhei-te, cavaquinho

Há leitores, no norte como no sul, que mordem a isca com surpreendente rapidez. Parecem transpirar avant la lettre's. Empregar muita energia no interpretar. Tentar descobrir algum rastro de significado ou migalha de cifra na letra. Ou atrás da letra. Ou abaixo. Acima? Do lado dela? Mirando-a de través? E depois a gente chega perto de vê-los conversar entre si, outra vez. A formular hipóteses, fundar exegeses, construir uma micro-teoria de dois.
Vai sempre por um exercício um pouco cômico supor uma conversa assim, que a gente sabe perfeitamente imaginária. E seria como o quê? Como ouvir uma indiscrição sem dolo. Daquelas que a gente ouve -- uma vez na vida, outra na morte -- pela vida afora. 
Ou então, como plagiar deliberadamente a postagem de uma leitora -- que também publica um blogue -- e ser denunciado por outra. Por outra, que, do contrário, não entendeu o que é delicadeza, o que é plágio. Ou ainda, em puro exercício de plagiar uma realidade inexistente, ouvi-las casualmente conversar entre si. E escrever sobre isso. Dizer aquilo... E isso seria, guardadas as proporções (ou mais ou menos guardadas), como passar o dia em Santos por opção quando se podia ter ido a Barra do Sahy.
Fisgar leitoras, leitores, seria, então, a primeira coisa a fazer? Diverti-los vem depois? 
Não estou certo. E no depois: como fisgá-los se, de momento, o que os leitores mais querem são espelhos?
Ah, espelhos! Mas isso de espelhos é fácil resolver. Não eram espelhos os primeiros, milagrosos presentes que os exploradores deixavam às tribos selvagens, como isca?¹ Não eram os espelhos astronautas? Pois, então, os espelhos que deixo apenas espelham esses primeiros. Ou, se quiserem, os plagiam.

E a vantagem de publicar em blogues (não em livros) é que a gente pode apagar a isca.


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¹Junto com artefatos que são utilizados ou para adornar o que os espelhos refratam ou para esquartejar o corpo dessas refrações.


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