sábado, 1 de setembro de 2012

Os Anjos da Artista

Ernesto Neto

Além do anjo da guarda, ela tinha também o anjo da vanguarda. Mas sobretudo tinha o direito de se auto-ajudar. Para que os projetos bastante pontuais, custosos, pudessem ser devidamente financiados por quem de direito: o namorado, que não era tão brilhante quanto ela no que tange a instalações, que não fossem as da elétrica praxe. Já aquelas outras, para ambientar em casas, centros e espaços de cultura, museus e galerias, eram com ela mesma. Pelo menos até a segunda ordem da conta. Quanto os afetos, então, podiam ser divididos entre o namorado e a família do namorado; e os editais e a família dos editais.

E era mais ou menos assim que ela divisava seus anjos: o da guarda, o do céu e o da vanguarda.

Mas o mais importante era o da vanguarda.

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