domingo, 23 de setembro de 2012

Imobilidade e Criação (ou O Paradoxo das Contas)


Marisol, 1993

Tenho para mim que a única arte moderna a ser lembrada no futuro não será o cinema, mas o futebol. E, ainda assim, para criar alguma coisa no futebol, dificilmente é necessária a imobilidade. A tal vida contemplativa. 

Ainda bem, não temos um poeta laureado, como os ingleses. Candidatos não faltariam. Temos, isso sim, um craque laureado, o que é muito menos subjetivo, convenhamos. Além disso, o craque laureado ganha um caminhão de dinheiro. E, o melhor, nem um centavo dessa grana vem do contribuinte, via mecenato estatal, como na Inglaterra.

Vejam Neymar, o atual “artista” nacional. Neymar tem causado polêmica nos últimos tempos. E não por suas mobilidades, que, no geral, sobre um gramado, até que nos encantam: criando chances de gol, assistindo-as, serrando espaços onde não há, esquivando-se pelos desfiladeiros enzagueirados, achando brechas no muro de pedra, convertendo gols. Mas precisamente por uma imobilidade. Como podem ser criativas também as vidas que apenas contemplam, mesmo no caso de um futebolista!

Quando do nascimento de seu filho – que não foi propriamente fruto de uma imobilidade - há pouco mais de um ano, Neymar fez o obstetra fechar a clínica só para si e a futura mamãe. Isso implicou em salas vazias, equipamentos ociosos. Em certa imobilidade-ambiente. Preço: R$ 45.00,00. Uma bagatela, que teria custado nadicas, se Neymar houvesse lançado mão de seu plano de saúde, entrado na fila, agendado dia e hora. Como os demais brasileiros. Mais ou menos imóveis. Suando sob o sol.

O problema é que, de acordo com o médico, Neymar ainda não pagou a conta. Ele está sendo processado por essa imobilidade, deveras criativa. Criativa para o bolso do próprio Neymar. Sem dúvida.

E logo ele, tão lépido em campo. Tão fagueiro diante dos microfones abertos ao pós-jogo. E por que demora em criar um pagamento?

E não há um problema crônico aqui? O médico, que não parece lá grande coisa com uma bola nos pés, por fim mobilizou-se. E acusou Neymar de mau pagador. E até entrou com um processo na justiça. Periga ganhar o jogo. A celeuma foi parar na imprensa marrom e não tão marrom assim. E tome processo.

Fosse Neymar Zenão, teria outras defesas. Sabe como? Instaurando um paradoxo do futebol. Há o infinito entre o 0x0 e o 1x0, etc.

Ou talvez um outro paradoxo: o das contas a pagar. 

É, pensando melhor, este último seria um paradoxo bastante disputado.

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