quinta-feira, 19 de maio de 2011

Era assim que dizia de si para si

[s/i/c]


Abnegação e Brindes


Certo espírito de abnegação e brindes era o que lhe presidia toda uma ética. Uma ética, no fundo, carismática e católica, voltada para orações à Virgem. E porque era assim, ela dizia de si para si:
Se eu ganhar o tônico facial para peles sensíveis, vou ficar tão feliz, que todos à minha volta também vão ficar.
Ela cria nisso. Era algo maior que suposição.
E, logo, ganhar o tônico facial para peles sensíveis convertia-se em algo importante, de fato, para ela; e, sem embargo, ainda mais crucial para o mundo, que ficaria um lugar melhor, mais bonito por conta de sua radiante felicidade. E, portanto, o tônico facial para peles sensíveis deveria ser ardorosamente reivindicado em suas preces. Em especial, as dirigidas à Virgem, que, como mulher, devia entender melhor que a Santíssima Trindade a importância de um creme facial para peles sensíveis na vida de uma jovem mulher.


NOTA --- Para esclarecer a uma jovem leitora que me escreveu:
O movimento carismático católico é o que de mais parecido há (inclusive em termos de rito) com o neo-pentecostalismo protestante, muito difundido no Brasil nas últimas 3 décadas. O neo-pentecostalismo, que se distancia do protestantismo histórico (anglicanos, luteranos, presbiterianos, batistas, etc.), fez a fortuna de alguns pastores, como, entre outros, o bispo Edir Macedo, dono da Rede Record. Como os neo-pentecostais, o carismatismo católico é uma "religião de resultados". Ou seja eu "peço" coisas materiais "para ser atendido". A rigor, em termos teoréticos, não práticos (porque há a singularidade, a particularidade de cada indivíduo), um carismático jamais entenderia o sentido profundo de um livro como . Ou esta passagem de Mateus [5:45]: "Porque faz que o sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". Ou seja, os desígnios divinos são insondáveis, ao fim de tudo. O texto que segue acima, no entanto, é apenas uma grande brincadeira. Quase uma farsa. Há pessoas que crêem que são elas na ficção, quando se toma algumas características delas para ficcionar em cima. É mais fácil essas pessoas que creem que "são elas" se irritarem. Em um texto como "Um Sergipe do Espírito", algumas postagens abaixo, por exemplo, o "eu" que fala, apesar de possuir algumas características minhas (aliás, todas negativas --- ressentimento, ciúme, inveja, temor de estar envelhecendo, etc. ---) está muito longe de ser "eu", assim como as outras pessoas aludidas, por mais que algumas delas sejam pescadas de uma circunstância real e concreta, deste mundo, estão longe de ser elas. Nem há qualquer propósito deliberado em desrespeitá-las. Mesmo a teia de ligações que há entre elas é, muitas vezes, tênue, apenas presumida... e, digamos, reciclada pela imaginação. Para meu ponto de vista, muito mais importante do que a história que está sendo contada --- e sempre se fala das mesmas coisas: uma terra, uma mulher, um ofício, uma época, etc. e a distância que se está desses seres --- é o modo como se conta a história. Quando escrevo prosa, mais do que o conteúdo, me interessa o modo como esse conteúdo está disposto: a ordem das palavras, sua sonoridade, o ponto de vista de emissão da voz, o registro, certa "concentraçao maníaca" decorrente de um excesso de revisões tomado como método, etc. Aliás, a quem interessar possa há vários textos inéditos (todos em prosa) postados no blog português É Tudo Gente Morta, que é uma experiência de blog compartida entre 14 autores.


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