quarta-feira, 4 de maio de 2011

A História da Lágrima no Ocidente

[s/i/c]



So many tears I was wasting

Em arte, aquilo que rompe o dique das lágrimas não pode provir senão da contemplação das formas. Afinal, aqui não se trata de chorar por tristeza – ou mesmo alegria – mas puro êxtase. Algo que sai de uma compreensão generosa. É por isso paciente. Fora de tempo. Retarda. Antecipa. Reveza. Convida à discrição. Compara. Germina em pensamentos posteriores. Às vezes, faz tudo isso simultaneamente. Tudo se ilumina. Cria um sentimento análogo ao do entendimento de um teorema sem geometria ao redor. Aquilo é compreendido na mesma medida que sentido. Faz caminhar sobre a corda bamba, sem corda e sem se ser bamba.
Tudo mais sai de olhos de crocodilo. Ou seja, são lágrimas choradas em causa própria. Como na maioria dos casos.
Quando blockbusters e comerciais começarem a lhe arrancar cachoeiras de Paulo Afonso, desconfie: há algo errado. A Apple, a Coca-Cola acham ducá, mas estão se lixando se esse chororô não é convertido em dólares. Há tabelas para calcular quanto valem os soluços ao redor do mundo. Um molhar de olhos na Holanda vale mais que um vale de lágrimas em Madagascar. Porque os choradores são mais humanos tão-só à medida que podem comprar do chorado.
Só há uma disposição mais elevada de pranto do que o vertido na percepção das formas, que educam os sentidos (e, em certo sentido, são genuinamente gratuitas).
Sobre essa, contudo, é vedado falar.


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