sábado, 5 de julho de 2008

Belas toantes sem fazer força: Lorca

Luis Buñuel e Salvador Dalí, Un Chien Andalou, 1928

La Balada del Agua del Mar

A Emilio Prados
(cazador de nubes) 

El mar
sonríe a lo lejos.
Dientes de espuma,
labios de cielo. 

¿Qué vendes, oh joven turbia
con los senos al aire? 

Vendo, señor, el agua
de los mares. 

¿Qué llevas, oh negro joven,
mezclado con tu sangre? 

Llevo, señor, el agua
de los mares. 

Esas lágrimas salobres
¿de dónde vienen, madre? 

Lloro, señor, el agua
de los mares.

Corazón, y esta amargura
seria, ¿de dónde nace? 

¡Amarga mucho el agua
de los mares! 

El mar
sonríe a lo lejos.
Dientes de espuma,
labios de cielo. 

Garcia Lorca


A Balada da Água do Mar

A Emilio Prados
(caçador de nuvens)

O mar 
sorri ao largo.
Dentes de espuma,
lábios de arco. 

Que vendes, oh turva jovem, 
com os seios no ar?

Vendo, senhor, a água
do mar. 

Que levas, oh jovem negro,
misturado ao teu sangue?

Levo, senhor, a água
dos mares. 

Essas lágrimas salobres
de onde vêm, mãe?

Choro, senhor, a água
dos mares.

Coração, e essa amargura
séria, onde nasce?

Amarga muito a água
dos mares.

O mar 
sorri, ao largo.
Dentes de espuma,
lábios de arco.



Nota – seria uma farta injustiça se os espanhóis também estivessem entre os maiores no futebol. Afinal, se fosse necessário haver um só poeta para todo o séc. XX, todos os outros poetas abdicariam em favor de Frederico Garcia Lorca. Em Lorca, os quatro elementos passam para a palavra. Não de um modo cerebral e construído - embora admiravelmente  - como em João Cabral ou Francis Ponge. Mas de um modo misterioso, perfeito, terrível. A tradução mais óbvia do último verso do refrão seria, claro, "lábios de céu". Mas se perderia a rima. Ainda no refrão da balada, que abre e fecha a peça, a esplêndida indiferença do mar diante das misérias humanas.

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