domingo, 18 de novembro de 2012

Alguma Música para o Final de Ano e Natal (Edição 2012 – Ano 2)


Carl Theodor Dreyer, Ordet (A Palavra), 1955 


Jean-Baptiste Lully (1632-1687) - o florentino pobre e auto-didata cujo talento levou-o a ser superintendente da música de câmara da corte de França. Libertino, teve casos com mulheres e homens. Segundo alguns, com o próprio Luís XIV - o que é disputado. Era também bailarino. Morreu da gangrena que sobreveio após ter acertado os dedos do pé com o bastão com que se regia à época (marcando com pancadas no chão). Sua música é caracterizado pela prevalência do baixo contínuo. Como nest'As Folias de Espanha:
Há um filme sobre sua vida: Le Roi Danse (2000)

Dietrich Buxtehude (1639-1707) - é o dileto precussor de Bach e expressamente dedicado à temática sacra. Esse compositor teuto-dinamarquês, que também era organista e um fervoroso luterano, chegou a acolher Bach em sua casa. Dele ouviremos um Magnificat (ou seja, um canto de louvor à Virgem por carregar em seu ventre o Salvador. Concretamente, o Magnificat designa o encontro de Maria com sua prima Isabel, então grávida de João Baptista): 

Monsieur de Sainte Colombe (1640–1700) – há um belo filme sobre este compositor chamado Touts le matins du monde. Provavelmente quase todo o filme é ficcional, pois perto de nada se sabe deste compositor da Aquitânia que aparentemente viveu nas cercanias de Pau e era protestante. No filme, Sainte Colombe é retratado como um jansenista recluso. Sainte Colombe foi um dos expoentes da viola da gamba, instrumento que precedeu o violoncelo. E é a peça Le Pleurs (O Pranto) para viola da gamba solo que ouviremos agora. A peça faz parte de um conjunto de temas chamados de Tombeau Les regrets (Tumba dos Lamentos):

Johann Pachelbel (1653-1706) – compositor alemão que viveu ao tempo de Bach. É mais conhecido pelo Cannon in G, que apresentamos ano passado. Este ano, dele ouviremos, uma peça que é uma das favoritas, a Partita "Christus, der ist mein Leben". O tema retorna e é glosado várias vezes em fuga. Esta peça macia, exulta alegriaª, serenidade, fé e tem, especialmente em seu início, a estrutura de um hino devocional:
http://www.youtube.com/watch?v=zNFt0jPAd58&feature=my_liked_videos&list=LL3cA86tI6hSRDhagTdcap6A

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ªÉ provável que o conceito de alegria em música para o brasileiro seja algo tão vinculado a ritmos fortes em andamentos acelerados, que deve soar estranho dizer que este tema é alegre. Mas a alegria é algo que pode ser conduzido também pela melodia, e até comportar um marcante senso de serenidade. Como nesta peça. 

Marin Marais (1656-1728) –  compositor francês especialista em viola da gamba. Foi aluno de Lully e do Sieur de Sainte Colombe. Dele, optamos por esta Chaconne para Viola da Gamba Solo - o violoncelo com seu timbre tendendo ao grave e a grande extensão é um dos naipes mais encorpados, e era também o instrumento de Villa-Lobos. Às vezes, é possível ouvir essas peças solo como uma conversa, com suas pontuações inflexivas, perorações, redundâncias, interjeições, apelos, perguntas, ênfases, exultações, súplicas, etc.:

Phillip Heinrich Erlerbach (1657-1714) – compositor alemão ligeiramente anterior a Bach. Uma Cantata de Natal em estilo algo pomposo, que lembra o de Händel:

Antonio Vivaldi (1678–1741) - o padre ruivo florentino dispensa apresentações. Seguem seu Concerto de Natal para Dois Trumpetes e Baixo Contínuo e, num segundo momento, o magnífico Concerto Grosso em Sol Menor RV578, com sua abertura estacada e a característica vivacidade, os dramáticos contrastes, a paixão, certa atmosfera de inexorabilidade tão característicos da música vivaldiana. Há de geométrico e frio na música de Vivaldi. Algo de cálculo. E, no entanto, um dramaticidade que não se encontra em lugar algum. Possivelmente o mais importante compositor do barroco, depois de Bach:

Francesco Manfredini (1684-1762) – discípulo do anterior, compôs extensivamente. Este músico nascido em Pistoia passou uma fase de sua carreira na corte de Mônaco. Dele ouviremos um Concerto de Natal em estilo vivaldiano:

Georg Phillip Telemann (1681-1767) – músico germânico contemporâneo de Bach. Dele escolhemos a Ária de seu Oratório de Natal: "Hirten aus den goldnen Zeiten":

Georg Friedrich Händel (1685–1759) - outro que dispensa apresentação. Selecionamos a Suite I da Water Music. Esplêndida e solene como só Händel, que foi também um mestre do gênero Oratório. E em especial a introdução dessa belíssima peça. Händel, Lully e os violistas franceses constituem os momentos de música leiga. Mas no barroco ainda não há suficiente descolamento entre medieval e moderno, e, portanto, toda a música barroca, mesmo a mais profana, é percorrida por um sopro de fé e celebração. Há nela uma pulsão para a comensalidade - e, logo, para a comunhão - porque o ser, súdito de um Senhor tão desmedidamente superior, nivela até mesmo as rígidas hierarquias sociais de então:

Pietro Locatelli (1695 –1764) – compositor e virtuose precoce do violino. Dele, para nossa coletânea predominantemente de música para o Natal, um movimento (V. Andante) de seu Concerto de Natal, onde a semelhança vai por Acangelo Corelli. Seu estilo mescla Corelli e Vivaldi. Ou seja, provem dos Concerti Grossi e vai até às Árias e Concertos de estilo vivaldiano:
E, num segundo momento, dois movimentos [IV. Allegro e V. Capriccio] do Concerto para Violino em Ré Maior. Onde no Capriccio há já algo maneirista:
http://www.youtube.com/watch?v=uo1pctDLQu0&feature=relmfu[Violin

Emerico Lobo de Mesquita (1746 –1805) – do barroco mineiro, este belo Te Deum seguido de um Salve Rainha: 


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Johann Sebastian Bach (1685-1750) – felizmente falamos bastante dele este ano. Então, melhor calar-se, ouvir sua música numa escolha expressamente sacra:

http://www.youtube.com/watch?v=a6MMW-NJmt8 [Abertura do Oratório de Natal, BWV 248 -  "Jauchzet, frohlocket, auf, preiset die Tage"]
http://www.youtube.com/watch?v=Y1bfAmz05Do&feature=related [A Sinfonia - ou Pastorale - do Oratório de Natal, BWV 248 - Abertura da Segunda Parte: descreve a chegada dos Pastores para a adoração do Menino].
Para uma versão completa do Oratório: mais de duas horas e meia de música:
http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=VVeluHdzcBY&feature=endscreen
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http://www.youtube.com/watch?v=dKMRNuCKHlM  [Cantata BWV 8 "Liebster Gott, wenn werd ich sterben?]
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Sôbolos Rios de Babilônia
Am Wassernflüssen Babylon, BWV 653:
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Paixão Segundo São Mateus, BWV 244 Chorus: "Wir setzen uns mit Tränen nider"

Há no Youtube, entre outras, esta versão completa da Paixão: mais de duas horas e meia de música:
http://www.youtube.com/watch?v=YUNdQ_GW9Tw&feature=related

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