terça-feira, 6 de novembro de 2012

Falhado Nóstos



desci à mansão dos
mortos, e implorei a
Hades por ti e ele
disse que não, e de jeito
nenhum, amizade. pluguei
a Telecaster, e cantei refrão
té de manhã. de saco
cheio, mas também
olhos de lágrima, pois
até pedras choravam, ele
disse: “tá, ok, meu chapa,
você venceu, pode levar:
o que é seu, o bicho não
come. mas olha lá, não
tem devolução nem
recall, passado o portal e
o prazo: é como se
ela tivesse outro nome.
e fica esperto, num
olha pra trás no mei' do
caminho, senão a rosa
vira espinho, some, volta
por onde veio para o
mesmo cantinho. e aí,
brô, como no poema de
poe: nevermore. e lembra
da mulher de lot, que
virou estátua de sal. não cai
na esparrela de olhar pra trás,
senão já era, babau, nunca
mais. não esquece: esse 
é teu laço, pedágio, até
sair do pedaço”. 
                          
                          senti teus
passos na escada, tua sombra, teu
vulto, halo, pingentes, perfume,
tua sola nos batentes acercando
-se de mim, o articular dos
teus artelhos, baita
fluência de ciranda, mesmo 
naquele vale de lágrimas
- uma agonia, um xafarraz -
teu ninho de água-marinha,
senti teu cheiro de flor,
e até senti algo mais:
teu dente mordendo dente
teu hálito, rumor de seda nos
braços, teus panos quentes, teus 
passos sem repercusso ao
longo do corredor. teu
pigarro, alfazema, o jeito de 
mascar cravo, assim de mor
charme - feito lá pela
Praia de Iracema - a ponta 
dos teus saltos batendo no 
trottoir. mas a certa altura, numa
dessas horas - xis gê dê ou agá -
(ou seriam dias, praias, chips,
rios ou raios, décadas a fio)
o tropeço. teu grito. me
fez olhar de soslaio,
desprevenido ponto com,
cambaleei, quase caio.

e de tua sombra, ah, minha
Eurídice, não ficou nem som

Nenhum comentário:

Postar um comentário