quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ladainha

Jeff Larson, 2000



oh, mulher de olhos fechados à beira da piscina, pensa em mim e em como eu perdi a minha rima.

oh, mulher com uma melancia na cabeça, pode ser que não gostes de mim, mas por favor não me esqueças.

oh, mulher com um periquito no ombro, a primeira vez que assuntei nos teus lábios foi um verdadeiro assombro.

oh, mulher preparando cup cakes, a simples lembrança dos vincos no teu rosto makes me ache.

oh, mulher sonhando um passeio de rio em tocantins, bem sei: mais aprecias o boi de parintins.

oh, mulher envergando pés de pato, será que para ti não fui mais que um carrapato?

oh, mulher com iPhone na mão direita, porque com a esquerda rebates minha desfeita.

oh, garota calibrando o material rodante, qualquer dia desses vamos bater numa aldeia xavante.

oh, mulher disputando os cem metros rasos, desculpa-me as precocidades. e os atrasos.

oh, mulher cantando marisa monte, a cada vez que te vejo, desapareces no horizonte.

oh, mulher batendo um bolo de cenoura, não sei qual a mais torta, se és tu ou se é a moura.

oh, moça que gerencia o estafe do centroavante, volta e meia dou meia-volta no carro, para te ver mais adiante.

oh, mulher passando de skate lá fora, se já me deste antes, porque não me dás agora?

oh, fulana jogando capoeira, tens algo de iemanjá, de joana d'arc, da beltraneja.

oh, menina remando contra a corrente, diz-me ao ouvido uma oferta para lá de indecente.

oh, princesa brandindo uma caçarola, será que um dia ainda vou te dizer: corra, lola, corra?

oh, ofélia esparramada em praia sob castanholeiras, não me deixes aqui assoviando “el dia que me queiras”.

oh, julieta armando instalações pelo país, me encontro tão mal amado, que já nem sei: tenho raiz?

ah, tesouro com lábios de monica vitti, por que não compareceste ao meu convite?

oh, marília escrevendo dissertação de mestrado, e fazias tão bem pato no tucupi, maniçoba, pirarucu grelhado.

oh, mulher nadando os duzentos metros borboleta, e ainda lembro a primeira vez em que beijei-te a silhueta.

oh, mulher assistindo sci-fi em cinema poeira; se for do teu agrado, amanhã mesmo plantamos um pau pereira.

oh, mulher, mulher, quando chegar meu outono, empurra direitinho minha cadeira até a fono.

oh, amor, quando eu descer ao último endereço: darás para o cafetão? para o gângster? mas não a qualquer preço.

oh, mulher com o cartão de crédito na mão, podes comprar o conversível, mas deixa para outro o caminhão.

oh, gata assistindo ao grande prêmio da malásia, que no futuro sejas contra esse negócio de eutanásia.

Um comentário:

  1. Tenho um amigo que ama as mulheres, todas elas e assim (in)condicionalmente.

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