Sobre uma foto de F. aos vinte anos
O mar, o píer, a moça e seus descalços,
Na luz da tarde que brota de seus olhos,
Os pés pisando as tábuas em falsos
Passos: ela flutua acima dos abrolhos.
Tudo converge para o xis dos braços
Onde de novo o dia nasce em portefólio—
Como se conseguisse os próprio traços
Da água da tarde, logrados em espólio.
Ela está onde a cidade se equilibra
Sobre o mar com um petroleiro à deriva
Num sem andar que move mais que a vida—
A resolução da foto não retem sua fibra.
Nela, tudo balé, milagre, céu, saliva,
E, atrás, o Atlântico é só sua jazida.
Nota – o único texto não ilustrado deste blogue vai para aquela que, em beleza e continuidade, às vezes no empuxo de horas extraordinárias, soube acolher em seus braços as promessas e os fracassos de uma vida. Na verdade, este poema é um pouco a admissão de um contrasenso, pois, como diz o de Stratford: "conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse te esquecer."
Gostava de ler livros de poemas que contivessem notas assim. Acho que, se um dia lançar um livro, será cheio de notas. Do tipo: "Este poema foi escrito numa terça-feira. Uma dessas terças que você jura que é sexta-feira, num abril assim que você jura que é outubro, num fim de mundo estranho que te juram que é onde você nasceu". Belo poema! O do Larkin mais abaixo também. Abraço!
ResponderExcluirOpa, leal Odorico, [o leal é para manter a tradição do epíteto, grande, estimado, compadre -- mas ñ é só força de expressão], bacana q. tenha gostado. quem sabe a gente não inaugura um novo gênero: a nota. se bem que é isso mesmo. gêneros não existem mais. já foram devidamente desconstruídos. de, resto, cê anda muito chique: escrevendo poemas satíricos em inglês no 'dessincronizado'! é o q. há!
ResponderExcluirforte abraço,