quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Arte longa, vida breve


Hélio Oiticica, 1958



Epigramáticos

E este trecho de Ortega y Gasset:

“O que significa esse asco pelo humano da arte [moderna]? É por acaso asco pelo humano, pela realidade, pela vida, ou é muito mais bem tudo ao contrário: respeito à vida e uma repugnância ao vê-la confundida com a arte, com uma coisa tão subalterna como é a arte?”

Este outro de George Oppen:

“Há situações que não podem ser encaradas dignamente pela arte”.

Ora, talvez o maior problema dos poetas brasileiros contemporâneos é que há muito pouca vida no que escrevem. Eles estão excessivamente preocupados em demonstrar que leram, fizeram o dever de casa. Mas fazer o dever de casa não é sinônimo de talento. Ou de alcançar uma tradução da experiência que segue carregada de estranheza, não paridade. Eis porque tanto se assemelham. Ocupam-se com sintaxes esdrúxulas, como se o emprego de certas palavras – e não de certas experiências, por maior malogro que seja o empenho de traduzi-las -- dispensasse um correspondente lastro de vida. Como se o arranjo dessas palavras não antepusesse uma forma anterior, coletiva, que pegou dois ônibus e um metrô para ir trabalhar, que tem pais, um namorado, que é mãe solteira e passou o dia contando cédulas atrás de um guichê...

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