domingo, 24 de agosto de 2008

Deus era sua única elegância: Stevens


Barnett Newman, 1945



The Good Man Has No Shape

Through centuries he lived in poverty.
God only was his only elegance.

Then generation by generation he grew
Stronger and freer, a little better off.

He lived each life because, if it was bad,
He said a good life would be possible.

At last the good life came, good sleep, bright fruit,
And Lazarus betrayed him to the rest,

Who killed him, sticking feathers in his flesh
To mock him. They placed with him in his grave

Sour wine to warm him, an empty book to read;
And over it they set a jagged sign,

Epitaphium to his death, which read,
The Good Man Has No Shape, as if they knew.

Wallace Stevens


O Homem Bom Não Tem Forma

Por séculos viveu na pobreza.
Deus era sua única elegância.

Então geração após outra tornou-se
Mais livre e forte, um tanto melhorado.

Viveu cada vida, porque mesmo ruins,
Dizia que uma boa era possível.

Por fim, veio a boa, sono bom, boa fruta,
E Lázaro entregou-o aos demais,

Que o mataram, enfiando penas em suas carnes
para dele zombar. Puseram junto à tumba

Vinho azedo em advertência, e um livro em branco;
E sobre ela puseram um marco saliente,

Epitáfio à morte dele, em que se lia,
O Homem Bom Não Tem Forma, como se soubessem.




Nota -- no segundo verso optei por não ser literal e tascar um "Só Deus era sua única elegância". Mas Stevens concordaria comigo. Mesmo sem saber português. Seu segundo idioma era o francês, que não está assim tão distante. Ele achava naturalmente "engraçado" que se pudesse falar francês o tempo todo. Daí um poema como "Le Monocle de Mon Oncle" refletir isto no título. Ainda que fosse só pelos portugueses --- não todos obviamente, apenas a fração mais pavorosa da elite em tempos idos --- e esta versão estaria mais perto da compreensão de Stevens. Eles chamam café da manhã de "pequeno almoço". Quanta vontade de ter à mesa um petit-dejeuner de manhã cedo. De todas as várias dimensões do português europeu --- algumas extremamente vívidas e charmosas --- essa subserviência ante o modelo francês é das menos atraentes.

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