domingo, 5 de agosto de 2012

Ídolos, Cobertura & Medalhas, Medalhas, Medalhas




O fraco desempenho da delegação olímpica brasileira tem gerado polêmica nas caixas de comentário. As reações seguem desde certo ceticismo ponderado (e, por vezes, até bem-humorado), até defesas ferozes ou sentimentais dos atletas. Mas há também aqueles que, ao modo de patrões ou feitores ou consumidores insatisfeitos, os detratam e xingam até a terceira geração. Como se pelo plano fato de perderem houvessem se convertido em seus inimigos pessoais. E com uma amargura, uma intensidade, um ressentimento que faz a gente adivinhar como deve ser existir dentro do esqueleto de quem escreveu isso ou aquilo. E por supostamente estarem pagando, como contribuintes, pela preparação dos atletas – quando, em não poucos casos, houve investimentos privados ou do próprio bolso ou do bolso das famílias. E mal se tem dimensão dos sacrifícios e esforços necessários para se chegar a uma final olímpica.
No mínimo, no entanto, algo faz sentido: i.) o Brasil leva um excesso de atletas para a modesta cifra de medalhas conquistadas ou a crônica dificuldade de chegar às de ouro. Também ii.) o COB deve orientar melhor a moçada sobre o que dizer em caso de muita expectativa e igual fracasso. Para que se evitem declarações pueris. Como a de Fabiana Murer, que foi glosada e gozada à exaustão na Tia Nete: "foi o vento".
Mas, se sentirmos melhor, muita coisa tem sido "vento". E, com certeza e muitos oras bolas depois, boa parte desse inflar as chances reais de um atleta para atrair a curiosidade do público vem da imprensa. Logo, iii.) a imprensa deveria ser mais clara quanto às reais chances dos atletas brasileiros em cada modalidade. Para que se evitassem frustrações advindas de esperanças sem lastro.
No entanto, não  bem é isso que ocorre.
Muitos jornalistas confundem realismo com pessimismo ou “torcer contra”. Informar que as chances de êxito são limitadas ou mínimas, quando o caso for, não mata ninguém. Ou compromete performances. 
Não mata, mas tira audiência, que é justo o que os patrocinadores – que estão se lixando para o tal “espírito olímpico” – desejam evitar a todo custo. 
O começo da campanha olímpica brasileira em 2012, com três medalhas no primeiro dia, inflou ainda mais esse falso estado de coisas. Todo mundo ficou ligado, pois pela primeira vez o Brasil liderou o quadro de medalhas. Talvez por menos de três horas, o rolo compressor chinês não dorme no ponto.
Mas uma semana depois, em termos de medalhas de ouro, prosseguimos somente com a conquistada pela piauiense Sarah Menezes ainda no primeiro dia. O que, aliás, gera estranho ranking interno: 1º lugar: Piauí, 1 ouro; 2º lugar, Resto do Brasil (São Paulo incluído), 0 (Zero) ouros. Necas de pitibiribas de ouro. E não poucos favoritos – Cielo, Murer, Scheidt, Camilo, o triplista Mauro Vinícius da Silva, o boxeador Everton Lopes, alguns judocas e tantos outros (judocas ou não) – ou nada ganharam ou não passaram do bronze. E isso não é o bastante.
Especialmente para um país ávido por ídolos. E que os encontra  com desesperado furor  até nessas rinhas de MMA, esporte que só cresce por aqui porque há brasileiros ganhando. Afinal, depois de Senna, os pilotos de Pindorama na Fórmula-1 – Barrichello, Massa, Nelsinho Piquet, Bruno Senna – foram medíocres. E seria ingenuidade pensar que teríamos, em breve prazo, no tênis, outro milagre como Guga. O basquete, que era nosso segundo esporte até a década de 80, felizmente conseguiu retornar à Olimpíada. Porém depois de longo hiato. E de haver perdido em importância e excelência. Além de, nos últimos anos, testemunhar uma indigesta hegemonia argentina na América do Sul. E para complicar de vez, não ganhamos nada digno de nota no futebol faz duas copas do mundo. E, nesta olimpíada, o vôlei de quadra (escape mais imediato do futebol) não começou bem. E o próprio futebol escapou fedendo de ser desclassificado por...Honduras. (Quem te viu!) E ainda que sua principal esperança para 2014, Neymar, pessoalmente pareça estar mais interessado em gravar anúncios, coreografar comemorações ou achar um novo corte de cabelo à moda dos anos 80, que propriamente em jogar bola. E, convenhamos, Mano Menezes não é treinador para a Seleção. E a atitude geral, pragmática, meio vigarista, mandriã, excessivamente malandra, vantagista de nosso futebol, não anima muito. E, recovenhamos, lugar de futebol – ao menos em sua milionária versão masculina – não é nos jogos olímpicos.
Nesse sentido, o de uma certa honestidade básica para com o telespectador/leitor/ouvinte, não vi comentário mais preciso que este, de Antônio Alonso, que cobre a vela para o UOL Esportes:


Para quem gosta de curiosidades e bizarrices das regras, eu preciso informar que há uma chance de Bimba ser medalhista. Isso pode acontecer se nenhum outro velejador conseguir largar na Medal Race, na terça-feira. Se eles "faltarem" à largada, a medalha fica com o brasileiro. Agora, se eles comparecerem, e desistirem logo após largar, Bimba fica mesmo com o nono lugar.

É isto.

Um jornalista mais dentro do padrão geral da cobertura, provavelmente – em nome dos patrocinadores, da audiência, do circo montado pela imprensa – iria dizer apenas: "o brasileiro tem chances de medalha". 

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