Otto Dix, Dance of the Death, 1924
Aubade
I work all day, and get half drunk at night.
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain edges will grow light.
Till then I see what's really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
The mind blanks at the glare. Not in remorse
- The good not used, the love not given, time
Torn off unused - nor wretchedly because
An only life can take so long to climb
Clear of its wrong beginnings, and may never:
But at the total emptiness forever,
The sure extinction that we travel to
And shall be lost in always. Not to be here,
Not to be anywhere,
And soon; nothing more terrible, nothing more true.
This is a special way of being afraid
No trick dispels. Religion used to try,
That vast moth-eaten musical brocade
Created to pretend we never die,
And specious stuff that says no rational being
Can fear a thing it cannot feel, not seeing
that this is what we fear - no sight, no sound,
No touch or taste or smell, nothing to think with,
Nothing to love or link with,
The anaesthetic from which none come round.
And so it stays just on the edge of vision,
A small unfocused blur, a standing chill
That slows each impulse down to indecision
Most things may never happen: this one will,
And realisation of it rages out
In furnace fear when we are caught without
People or drink. Courage is no good:
It means not scaring others. Being brave
Lets no-one off the grave.
Death is no different whined at than withstood.
Slowly light strengthens, and the room takes shape.
It stands plain as a wardrobe, what we know,
Have always known, know that we can't escape
Yet can't accept. One side will have to go.
Meanwhile telephones crouch, getting ready to ring
In locked-up offices, and all the uncaring
Intricate rented world begins to rouse.
The sky is white as clay, with no sun.
Work has to be done.
Postmen like doctors go from house to house.
Philip Lakin
Aubade
Trabalho o dia todo, e à noite fico meio bêbado.
Acordo às quatro em silente breu, e observo.
Breve da cortina a luz vertendo-se pelo lado
E até então, vejo o que sempre esteve lá, em nervo:
Incansável morte, agora um dia mais rente
Tornando impossível pensar com que mente
E onde e quando eu mesmo devo morrer.
Árida questão: temor absorto
de morrer, de estar morto,
Lampeja vivo a me dominar e estremecer.
A mente lacuna-se à visão. Não em remorso
– O bem não feito, o amor não dado, o gasto
Tempo em nada – nem lamentavelmente o esforço
Que uma vida toma ao escalar seu lento rasto
Certa de seus começos equívocos, e nada de acerto:
Mas do total vazio sempre perto,
A segura extinção que será nosso paradeiro
E quase sempre se esquece. Não estar mais aqui,
Não estar mais ali,
E em breve; nada mais terrível e mais verdadeiro.
Nenhum truque dissipa esse medo único. A religião escorre
Um vasto, comido por traças, brocado musical
Criado para fazer de conta que não se morre,
E teorias especiosas dizem que um ser racional
Não pode temer o que não sente – nem som, nem sinal
Nem toque ou gosto ou cheiro, nada com que pensar
Nada para amar ou se ligar,
O anestésico para o qual nada vem de encontro, afinal.
Então ela fica bem à beira da visão
Uma mancha desfocada, persistente frieza
Que ralenta cada impulso em indecisão
Muita coisa jamais haverá: ela é certeza,
E sua realidade raiva acende
Na fornalha do medo quando a gente se pega sem
Companhia ou trago. Não adianta coragem:
Significa não assustar os outros. Ter postura
Não livra ninguém da sepultura.
A morte não muda, se vista com pranto ou vantagem.
Lentamente a vida encorpa, e o quarto se encontorna
E assoma plano como um armário, o que se sabe,
sempre soube, o saber que ela não se contorna
ainda que se não aceite. Há um lado que não cabe.
Enquanto telefones vergam-se, preparando o toque
Em escritórios fechados, e feito de intricado xaboque
De alugado descaso o mundo desperta sua vasa.
O céu é claro como barro, sem sol ao limiar
Alguém tem de trabalhar.
Carteiros como médicos vão de casa em casa.
* * *
este poema deve ter dado um trabalho da porra. ficou lindo, ruy.
ResponderExcluirlindo mesmo!
ResponderExcluirOlá Ruy.
ResponderExcluirGostei do Larkin em si.
O nosso Manuel Fonseca também tem uma muito interessante tradução deste poema.
Um abraço.