Le Corbusier, Chaise Lounge
Adivinha o que brilha mais
Le Corbusier é uma das celebridades do alto-modernismo que mais fascina o universo de língua inglesa. Há atualmente nada menos que 8 (oito!) biografias em catálogo sobre o arquiteto franco-suiço no idioma de Shakespeare. E na semana passada, uma ampla resenha sobre elas no New York Review of Books. Outras já haviam saído, à virada do ano, e em prestigiosos jornais e revistas norte-americanos, como The Nation, International Herald Tribune ou Washington Post.
Quase todas se assemelham. Os biógrafos mal disfarçam sua admiração diante do acúmulo de talento, poder e prestígio desse filho de um relojoeiro calvinista que desenhou para o próprio pai uma casa inabitável, apesar de caríssima. Todos ressaltam, de outro modo, que a obsessão de Le Corbusier era, de fato, a mãe. E fazem esquematicamente da vida do influente arquiteto uma espécie de ode ao complexo de Édipo. Ou uma via-crucis do menino mimado.
O que há nessas biografias de tão previsível? Algo análogo ao que David Foster Wallace apontou numa brilhante resenha sobre uma biografia de Borges: a redução da obra em prol de um psicologismo barato. Um psicologismo que reduz a obra do biografado da vez a uma sorte de linha reta provinda de certa eleição de comportamento em análise: no caso de Borges, sua falta de jeito no relacionamento com as mulheres, mas também - e a exemplo de Le Corbusier - um excessivo apego à figura materna. Pronto, basta que o leitor se sinta um pouco cativado pela própria argúcia...
Trata-se de biografias que fazem o leitor "sentir-se" inteligente.
Mas será que explicam alguma coisa mesmo? Ou são apenas, como sugere Foster Wallace, um engodo que visa, entre outras, simplificar as coisas, ao propor nexos causais que parecem afagar o ego do leitor no sentido de jogar para ele, feito isca, uma espécie de esquema monocausal, que, ao mesmo tempo que busca uma chave para todos os mistérios também faz esse leitor sentir-se mais... inteligente? [Algo análogo ocorre em filmes, como no medonho Meu Nome Não é Johnny].
Acautelar-se diante dessas biografias que parecem insinuar, ao modo de um clássico vt publicitário dos anos 70: "adivinha o que brilha mais:/ o assoalho da mamãe/ ou sapato do papai?"
Assim como não se pode reduzir a obra de Kafka á tirania do pai, é fazer café pequeno de gente como Borges ou Corbusier restringir o vetor de criação deles ao fato de serem supostos "menininhos-da-mamãe". Os leitores, no entanto, adoram essas reduções psicologizantes. Elas parecem "explicar" muita coisa do processo criativo desses gênios. Tudo. Como se "tudo" fosse passível de explicação. Ainda que por Freud, Lacan ou Odair José ("felicidade não existe/ o que existe na vida são momentos felizes").
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Quase todas se assemelham. Os biógrafos mal disfarçam sua admiração diante do acúmulo de talento, poder e prestígio desse filho de um relojoeiro calvinista que desenhou para o próprio pai uma casa inabitável, apesar de caríssima. Todos ressaltam, de outro modo, que a obsessão de Le Corbusier era, de fato, a mãe. E fazem esquematicamente da vida do influente arquiteto uma espécie de ode ao complexo de Édipo. Ou uma via-crucis do menino mimado.
O que há nessas biografias de tão previsível? Algo análogo ao que David Foster Wallace apontou numa brilhante resenha sobre uma biografia de Borges: a redução da obra em prol de um psicologismo barato. Um psicologismo que reduz a obra do biografado da vez a uma sorte de linha reta provinda de certa eleição de comportamento em análise: no caso de Borges, sua falta de jeito no relacionamento com as mulheres, mas também - e a exemplo de Le Corbusier - um excessivo apego à figura materna. Pronto, basta que o leitor se sinta um pouco cativado pela própria argúcia...
Trata-se de biografias que fazem o leitor "sentir-se" inteligente.
Mas será que explicam alguma coisa mesmo? Ou são apenas, como sugere Foster Wallace, um engodo que visa, entre outras, simplificar as coisas, ao propor nexos causais que parecem afagar o ego do leitor no sentido de jogar para ele, feito isca, uma espécie de esquema monocausal, que, ao mesmo tempo que busca uma chave para todos os mistérios também faz esse leitor sentir-se mais... inteligente? [Algo análogo ocorre em filmes, como no medonho Meu Nome Não é Johnny].
Acautelar-se diante dessas biografias que parecem insinuar, ao modo de um clássico vt publicitário dos anos 70: "adivinha o que brilha mais:/ o assoalho da mamãe/ ou sapato do papai?"
Assim como não se pode reduzir a obra de Kafka á tirania do pai, é fazer café pequeno de gente como Borges ou Corbusier restringir o vetor de criação deles ao fato de serem supostos "menininhos-da-mamãe". Os leitores, no entanto, adoram essas reduções psicologizantes. Elas parecem "explicar" muita coisa do processo criativo desses gênios. Tudo. Como se "tudo" fosse passível de explicação. Ainda que por Freud, Lacan ou Odair José ("felicidade não existe/ o que existe na vida são momentos felizes").
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Que dizer então do Petit Marcel?
ResponderExcluirpois é, fernando, no caso em questão, parece ser tempo perdido ir em busca de uma "explicaçao" que vá além do édipo, etc. embora, talvez, valesse a pena.
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