quinta-feira, 9 de abril de 2009

Poema escrito em cima de um velho tapete persa


[s/i/c]



Balada dos Desolados da Meia-Idade



Aos quarenta e calvo, ele rumina:
"Que tal uma ruiva cheia de estamina"?

Sonha ainda em ser funcionário
Público, se aposentar com salário

Digno. Um dia ele foi digno, de fato,
Até gastar a sola do sapato

No degrau da faculdade de direito,
Onde em redondilha pôs seu pleito

Para ver se ela caía na conversa
Em cima de um velho tapete persa.

Mas improvisos são de outra geração
E tapetes novos, necessários; mesmo á prestação.

Então, ele fundou uma ONG ambiental
Que cuida de gauxinins no Pantanal;

Enquanto ela espera curar umas perebas
Ajudando a preservar a identidade dos Tapebas.

Mas nessa tara de ONG's emergentes,
Disputam: quem dos dois é mais decente?

Jogam charme na horta alheia, e, todavia,
Cada um enxerga menos a própria miopia.

Hoje, aos quarenta, entre os Tapebas, ela aprende
Que o que pode render troco, não se se rende.

Já ele, cuida dos guaxinins no Mato Grosso
até o ponto de o tráfico não cismar com seu pescoço,

E a algumas ruivas, ainda surpreende,
Queimando as receitas que acendem o duende.



* * *

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