A maquete do Estádio Castelão, em Fortaleza, cuja conclusão de reforma está prevista para o final de 2012
Decadência sem elegância
O
futebol brasileiro tornou-se desinteressante porque perdeu o norte.
A postura do jogo italianizou-se a partir do Rio Grande do Sul. Aferrolhou-se. A
filosofia adotada, de pragmatismo extremo, desfaçatez e lei do menor
esforço, não ilude. Foi abraçada para ganhar feio. E nem assim. Supostamente esse jogar feio deveria nos compensar por ter jogado belissimamente e não haver ganho. Mas exageraram na dose. E de momento até
a Alemanha, quem diria, joga com mais poesia e menos volantes, tem um camisa 10.
De
repente, um futebol que era sinônimo de ataque se vê de calças
curtas dizendo que ganhar de meio a zero é negócio: perguntem a
Messi e ao Barcelona se é.
O
resultado são 22 milhões de seguidores do Barça no Twitter. E pelos
quatro cantos do mundo. Enquanto o primeiro time brasileiro na lista, correndo atrás do prejuízo, o
Corinthians, surge apenas em 17º lugar. E sem seguidores fora do Brasil. E com um futebol nada vistoso. À moda do Sul. Não há dúvida: a Catalunya é o novo país do futebol. E o morto posto: ¡Visca Catalunya!
Ao menos para quem gosta de futebol. Futebol de invenção, improviso, jogado com disposição. Futebol inteligente, que não se prende a esquemas fixos, embora parta deles. Futebol que alia o refinado toque de bola argentino à técnica individual e senso de improviso dos brasileiros. Que toma tudo isso e acrescenta disciplina tática e empenho nas categorias de base. O resultado é o atual estilo catalão: ofensivo e fluido. Sem vícios de ganhar tempo, postar-se atrás após marcar, pressionar juiz, viver de cavar faltas, pênaltis ou fazer gols predominantemente de bola parada. Sem medo de ser feliz: deixar em segundo plano a "malandragem" e ocupar-se com o principal: jogar bola. No fundo, a receita é simples. E Pep Guardiola, el noi de Santpedor, sabe disso.
Ao menos para quem gosta de futebol. Futebol de invenção, improviso, jogado com disposição. Futebol inteligente, que não se prende a esquemas fixos, embora parta deles. Futebol que alia o refinado toque de bola argentino à técnica individual e senso de improviso dos brasileiros. Que toma tudo isso e acrescenta disciplina tática e empenho nas categorias de base. O resultado é o atual estilo catalão: ofensivo e fluido. Sem vícios de ganhar tempo, postar-se atrás após marcar, pressionar juiz, viver de cavar faltas, pênaltis ou fazer gols predominantemente de bola parada. Sem medo de ser feliz: deixar em segundo plano a "malandragem" e ocupar-se com o principal: jogar bola. No fundo, a receita é simples. E Pep Guardiola, el noi de Santpedor, sabe disso.
Na contramão, tudo
que cerca o futebol brasileiro dentro e fora de campo tornou-se
odioso de ver. Inclusive a pasmaceira em torno de nomes como
Ronaldinho. Não há mais o que falar de Ronaldinho. A não ser
que ele protagonizou o maior desperdício de talento da história do futebol. Ou que a nossa poderia ter sido a era em que veríamos o time de Ronaldinho contra o time de Messi. E haveria ainda o de Cristiano Ronaldo. Querer mais o quê? Agora, que interesse pode ter a vida extra-campo de um semi-analfabeto que gosta de pagode, de tomar umas e outras, cair na balada e faltar ao trabalho? Qualquer um pode ser analfa, gostar de samba, tomar suas cachaças, sair do passo e ser negligente. Mas só um podia JOGAR FUTEBOL como Ronaldinho chegou a jogar quando pôs um pouquinho de empenho nisso.
Sem assunto, os portais brasileiros fazem exposições de como se modificou o visual de Neymar nos últimos três anos. Que o visual de Neymar vá para o raio que o parta. Enquanto isso, Messi e o Barcelona comem a bola. Alguém já viu ao menos uma matéria sobre “o novo corte de cabelo de Messi”? E, de outro modo, que banho de bola o Barcelona aplicou no Santos em dezembro último. Barba, cabelo, bigode. Messi não precisa mudar de penteado ou deixar crescer o cavanhaque para ser notícia. Basta jogar bola.
Sem assunto, os portais brasileiros fazem exposições de como se modificou o visual de Neymar nos últimos três anos. Que o visual de Neymar vá para o raio que o parta. Enquanto isso, Messi e o Barcelona comem a bola. Alguém já viu ao menos uma matéria sobre “o novo corte de cabelo de Messi”? E, de outro modo, que banho de bola o Barcelona aplicou no Santos em dezembro último. Barba, cabelo, bigode. Messi não precisa mudar de penteado ou deixar crescer o cavanhaque para ser notícia. Basta jogar bola.
Futebol
é também uma abstração que merece algum respeito. Uma consideração com passado e muitos clichês. Teóricos e práticos. Uma arte retórica entre traves. Uma alegoria de combate sem guerra ou massacres - embora com alguns campos onde importa a concentração. Um tipo de música dos gestos banais, de repente, alçados à sublimidade. Um estado de
espírito, onde se exalta a intuição certa no local improvável. É até mesmo uma metafísica. E, se é mais popular que os outros esportes somados, é porque está próximo do improviso da vida. Mal comparando, está para os outros esportes assim como o catolicismo para outras religiões, o inglês para outros idiomas, a Guiness para cervejas pretas ou a Gillette para lâminas de barbear.
Se não visto assim, com esse senso de universalidade e proporção, os deuses do futebol não gostam da oferenda. E, claro, hoje em dia futebol tem a ver com direitos televisivos, patrocinadores, consumo, design, moda, um bocado de marketing. Mas por enquanto ainda é jogado dentro de campo. E é duro gostar de futebol e não de Josés Marias Marins, Andrés Sanches, Galvões Buenos, Carlos Albertos Parreiras, Wanderleis Luxemburgos, Patrícias Amorins, Manos Menezes, Tites, Orlandos Silvas, Aldos Rebelos, assim como os excessos de fora de campo da vida de Neymar & Cia, sempre na crista da mídia.
Infelizmente a tudo isso e esses acostumamos associar o futebol no Brasil. E isso têm contribuído para sua decadência. Para não falar da falta de senso público de nossos dirigentes e cartolas. Ou da truculência das organizadas, que parece não ter limite. Ou da superfatura a rondar a entrega emergencial dos estádios de 2014. Ou ainda da complacência com que a imprensa em peso banca Mano Menezes: seu marasmo de ideias, sua mediocridade. Mas a polida interlocução nas insossas coletivas.
Tudo isso é o fim. É fora de campo. Mas fere qualquer campo de epistemologia ou de grama. Mas tem arrasado com o que está dentro de campo: o jogo em si.
Agora, também ninguém aguenta mais 1x0 em casa, 1x1 fora, o time todo atrás. E decidir nos pênaltis. Isso no passado era opróbrio. Hoje é norma. E para ser louvado. Mas os catalães, ainda bem, não caíram nessa esparrela. Ganham e dando espetáculo. Jogam de visitante no ataque. Entram em cada partida pensando em golear. Fizeram do ataque a melhor defesa. Sabem que a posse de bola é melhor arma, e o passe curto, de primeira, o motor de conduzi-la. Sabem que futebol, como espetáculo, deve ter ganas de beleza, além da eficácia. Não sabem o que é medo, ferrolho, volantes só para destruir, viver de contra-ataques. Que o medo fique para os adversários. Eles no máximo têm caldo de galinha, um pouco de cautela. Mas acima de tudo um bocado de brio. E pensar que há trinta anos nós é que éramos o Barcelona!
Não é paradoxal que às vésperas de sediar um mundial o futebol brasileiro conheça a pior fase de sua história? A draga atual parece ainda mais aguda que aquela entressafra de fins dos 80, começo dos 90. E será mera coincidência essa decadência sem elegância e o advento da Copa?
Se não visto assim, com esse senso de universalidade e proporção, os deuses do futebol não gostam da oferenda. E, claro, hoje em dia futebol tem a ver com direitos televisivos, patrocinadores, consumo, design, moda, um bocado de marketing. Mas por enquanto ainda é jogado dentro de campo. E é duro gostar de futebol e não de Josés Marias Marins, Andrés Sanches, Galvões Buenos, Carlos Albertos Parreiras, Wanderleis Luxemburgos, Patrícias Amorins, Manos Menezes, Tites, Orlandos Silvas, Aldos Rebelos, assim como os excessos de fora de campo da vida de Neymar & Cia, sempre na crista da mídia.
Infelizmente a tudo isso e esses acostumamos associar o futebol no Brasil. E isso têm contribuído para sua decadência. Para não falar da falta de senso público de nossos dirigentes e cartolas. Ou da truculência das organizadas, que parece não ter limite. Ou da superfatura a rondar a entrega emergencial dos estádios de 2014. Ou ainda da complacência com que a imprensa em peso banca Mano Menezes: seu marasmo de ideias, sua mediocridade. Mas a polida interlocução nas insossas coletivas.
Tudo isso é o fim. É fora de campo. Mas fere qualquer campo de epistemologia ou de grama. Mas tem arrasado com o que está dentro de campo: o jogo em si.
Agora, também ninguém aguenta mais 1x0 em casa, 1x1 fora, o time todo atrás. E decidir nos pênaltis. Isso no passado era opróbrio. Hoje é norma. E para ser louvado. Mas os catalães, ainda bem, não caíram nessa esparrela. Ganham e dando espetáculo. Jogam de visitante no ataque. Entram em cada partida pensando em golear. Fizeram do ataque a melhor defesa. Sabem que a posse de bola é melhor arma, e o passe curto, de primeira, o motor de conduzi-la. Sabem que futebol, como espetáculo, deve ter ganas de beleza, além da eficácia. Não sabem o que é medo, ferrolho, volantes só para destruir, viver de contra-ataques. Que o medo fique para os adversários. Eles no máximo têm caldo de galinha, um pouco de cautela. Mas acima de tudo um bocado de brio. E pensar que há trinta anos nós é que éramos o Barcelona!
Não é paradoxal que às vésperas de sediar um mundial o futebol brasileiro conheça a pior fase de sua história? A draga atual parece ainda mais aguda que aquela entressafra de fins dos 80, começo dos 90. E será mera coincidência essa decadência sem elegância e o advento da Copa?
Vinde
a mim as firulinhas.
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