Impressiona
o quanto as pessoas são abertamente hostis a tudo que é posto pela mídia em alvo, para ser hostilizado. Por exemplo, qualquer forma de
religiosidade organizada. Em especial se vinculada à Igreja
Católica. Há aqui, evidente, um preconceito. Contra a Igreja Católica. Tão nefasto quanto o preconceito contra mulheres, gays, especiais ou negros. Mas as pessoas não
querem saber disso. Nem conhecer os outros lados da questão. Não querem saber do direito que as outras pessoas tem de, por exemplo, não serem ateias, optarem por uma religião. E essa religião ter um centro. Ou do direito de mulheres se
organizarem numa agremiação chamada: Liga das Esposas Católicas
do Rio de Janeiro, por que não? E de certa forma é de algum modo gracioso que haja o nome "esposas" na sigla de uma agremiação qualquer hoje em dia, seja ela qual for. Imagine-se uma: Associação das Esposas dos Sem-Terra do Pontal de Paranapanema. É um pouco a garantia de que algum vestígio anterior à revolução das novas mídias permanece. Algo que vem de um mundo estável e arcaico. As últimas pedras desse mundo. E é bom que haja vestígios assim, porque nos transmitem uma ideia de diversidade. Uma real ideia de diversidade. Diferente, aliás, de outra, mais restrita, precipuamente importada, que a mídia insiste em impor, sem maior reflexão, dia após dia. Quem sabe podia haver também uma "Liga dos Maridos Traídos do Estado do Ceará". Ia faltar espaço e auditório para as plenárias. E chegando mais. Semana passada, no Twitter, só não chamaram de bonitas as pobres das esposas católicas cariocas. Puro malhar judas. E, pior, via de regra sem argumentos contra as coitadas. Era só pancada. De todo lado e 14o manoplas. Ora, é um direito dessas
senhoras (e lembrem-se senhoras cariocas e, logo, entre mais belas da terrinha) optarem por reunir-se numa entidade para defender o grupo
de ideias que acham razoáveis. Resta saber se essas ideias são
mesmo razoáveis. E isso se dá mediante debate, e não xingamentos no Twitter. E é bom ter sempre à mira que deve-se atacar as ideias, não as mulheres ou homens que as defendem. A isso se
chama liberdade de expressão. Se não emprega violência e intransigência em suas práticas, mesmo que não concordemos com as premissas gerais de uma
agremiação assim, uma escolha desse tipo deve ser respeitada. O sentido de tolerância e democracia nos cobra
isso. Assim como nos cobra apoiar as reivindicações (justas) das
minorias sexuais e étnicas. Ou das mães solteiras budistas. Ou dos
travestis que gostam de se vestir de padre. Ou dos ciclistas que
andam de liteira. Ou dos rappers que tomam sorvete com macarrons às três da manhã em Nazaré das Farinhas debaixo do pé de mangaba. Ou da periquita não australina da vizinha. Ou dos escritores que dizem ou.
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