De
Sermos (Mais) Numerosos (Que Nunca)
os
rostos em torno dos nossos rostos eram a fiança de que os nossos rostos também tinha uma feição coletiva. E porque havia limiares, o mundo
era uma aventura sem fim. Nós víamos nesses rostos as marcas dos
nossos. E vice-versa. Íamos nos acostumando com eles no dia a dia. No trabalho. Em
casa. Na escola. De passagem ou doucement. Tecíamos relações de correspondência ou estranhamento. O nariz empinado de Clara nas grandes olheiras
de Joel. Guizo de serpente entre os dentes de Estêvão na testa franzida de Aline. A
anedota do pai nos lábios da filha. Ruga ou riso neles respingava
nos nossos. Olhávamos água ou espelho, e víamos os outros
era nossa forma de rede, teia para feixes de olhar
e dava-se o fade. havia um fechamento de perspectiva. Série finita. O mundo acabava no fim do bairro dos gestos. Na família grande passando férias na chácara. O resto nos era dado imaginar. E por isso imaginávamos forte.
mas antes, claro, víamos expressões e fisionomias que, de certo modo, eram nossas expressões e nossas fisionomias nos demais. Agudamente. E esse constante remascaramento, mutação. Conversávamos com os demais sem câmeras, caracteres, fones. Havia um elo impressentido entre eles e nós
era nossa forma de rede, teia para feixes de olhar
e dava-se o fade. havia um fechamento de perspectiva. Série finita. O mundo acabava no fim do bairro dos gestos. Na família grande passando férias na chácara. O resto nos era dado imaginar. E por isso imaginávamos forte.
mas antes, claro, víamos expressões e fisionomias que, de certo modo, eram nossas expressões e nossas fisionomias nos demais. Agudamente. E esse constante remascaramento, mutação. Conversávamos com os demais sem câmeras, caracteres, fones. Havia um elo impressentido entre eles e nós
hoje,
entramos na rede, e há milhões de rostos à disposição. Uma arte
em mostruário. Uma mostruariedade. Fotos em fichas, como nos arquivos da polícia, se for gosto ou caso. E virtuais vítimas ao alcance dos que matam em série. E, depois de um tempo, em que
vimos alguns desses rostos - e eles parecem pôr o nosso a perder -
pode-se propor a áspera pergunta: daria ao menos tempo de ver o
rosto de cada um dos sete bilhões?
não haveria tempo a perder, se fosse estipulado que seu neto ou bisneto terminasse a tarefa. provavelmente seria necessário
gastar várias vidas nesse árduo encargo. E só por alguns segundos
poderíamos ver cada rosto. (Esqueça falar) E, porém, ao invés dos antigos
impressentimento e vínculo, restaria apenas tédio.
essa sensação de que a vida não vale a pena sete vezes sete bilhões de vezes.
já tinha pensado nisso. mas como pensar nisso?
ResponderExcluirquer um picolé?
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