Da intoxicação letal da vingança para as sábias práticas da auto-reforma
“Gostaria
de agradecer à corte, na pessoa de Vossa Excelência, pelo modo
cordial, ponderado e elegante com que os procedimentos se
desdobraram. Foi um privilégio e um aprendizado testemunhar diante
deste tribunal”. Assim se expressou Leonard Cohen, 77, após a
sentença que lhe deu, esta semana em Los Angeles, ganho de causa no processo que moveu contra
sua ex-empresária, Kelley Linch, 55, por assédio. O bardo canadense,
cujas letras já chamavam atenção antes mesmo de serem musicadas
- na verdade, mais ditas, num tom de barítono profundo, que cantadas - alegara que
vinha sendo sistematicamente perseguido por Miss Linch.
A
ex-empresária foi condenada a um ano e meio de prisão – com
condicional nos cinco anos subsequentes - depois que se verificou o
teor de milhares de mensagens de voz e centenas de imeios em que ela o ameaçava. E só não o chamava de santo: “pervertido”, "safado", “ladrão”, "velhaco" e insinuava que ele devia ser “sequestrado e
eliminado”. Isso para não falar das impublicáveis. Embora essas, para não toar fora do figurino, façam referência à anatomia e à virilidade de Cohen.
“'O Cohen
tem de ser enforcado' não é algo lá muito agradável de ouvir”, ponderou o
cantor canadense diante dos jurados.
O
caso ganhou certo tempero e momento quando Cohen admitiu que havia
tido um affair com a ex-empresária: “uma breve ligação íntima”, em suas
sempre medidas palavras. Isso, antes de demiti-la e processá-la, em
2005, sob a acusação de ela lhe haver surrupiado a bagatela de 5 milhões de dólares. À
época, a justiça americana deu ganho de causa a Cohen. Mas o
processo esteve sujeito a revisões e apelos em outras instâncias.
Alguns jornais, entre eles o Guardian, sugerem, no entanto, que os fãs de Cohen devem agradecer de pés juntos à Senhorita Linch. Aparentemente o alegado furto dessa importância foi o estopim da volta de Cohen aos palcos. Há anos o músico vivia recluso
em um mosteiro budista na Califórnia: meditando. Para todos os efeitos, sem a menor intenção de
brindar o mundo exterior com sua graça. Porém, aos poucos, Cohen deu-se
conta de que seria necessário organizar uma turnê capaz ressarci-lo dos alegados prejuízos, se desejasse viver sem perturbações. Sua digressão de 2008-09 foi reputada como
um sucesso estrondoso, o que lhe rendeu cerca de nove e meio milhões de
dólares. Além disso, um tanto por conta, ele ganhou o prêmio
Príncipe das Astúrias, ano passado, e pôde, assim, voltar à
sonhada reclusão.
Cohen,
à sua vez e sem perder o tom, saiu-se com as seguintes palavras conclusivas sobre o processo: “Eu gostaria de agradecer à arguida, Senhorita Kelley
Linch, por haver insistido em um julgamento, facultando assim à
corte a observação de suas profundas, deletérias, implacáveis
estratégias de escapar aos seus malfeitos. Está nas minhas preces
que a Senhorita Linch encontre refúgio nos ensinamentos de sua
religião, e que um espírito de concórdia mude seu coração do
ódio para a contrição, da intoxicação letal da vingança para as
sábias práticas da auto-reforma”.
Pelo
visto, a eloquência do autor de “Hallelujah” - aqui combinada a uma evidente polidez - não se limita só
às letra de música. Ou de nenhum modo desadestrou-se no isolamento de suas
práticas budistas. Resta saber com que disposição de ânimo a ré terá recebido essas sábias recomendações.
Hhahahaha...adorei...esta resposta eu gostaria de ter dado outro dia para uma pessoa que bem merecia!!!
ResponderExcluire o tempo verbal. se merecia, é porque já está no passado. e o bom é não comer fígados.
ResponderExcluiresse cabra se não for santo é de um sarcasmo clínico. tadinha da empresária
ResponderExcluirnobody is perfect, já dizia billy wilder. nem mesmo os budistas
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