Clipe

A vocalista dos Velocípedes do Forró desce de uma Ferrari vermelha que acabou de estacionar nas dunas. Ela salta sobre a areia que em parte açoita seus pés no fluxo do vento. E corre até seu amado. O rapaz, que estava sentado com uma expressão de saudade, ergue-a e a toma nos braços. Os dois giram. Beijam-se diante do mar. E ele a estreita com paixão. A noite cai. Uma turma promove um lual e estrelas cadentes riscam o céu. A fogueira está queimando. E todos juntos em torno deles e da fogueira bebem, tocam violão, comem alfajores e se divertem. De outro modo, não saberiam fazer ou ser muito mais que isso. Depois apertam-se e dançam no ritmo do forró. E em seguida forroseiam apertado no ritmo da dança. E então ritmam-se no aperto da dança forroseada. Estava tão adicta dessas festas que não sabia mais se ia direto ao ponto ou direto ao pinto. Talvez devesse ir direto ao fundo das coisas tais como elas nunca se apresentam quando estamos de olhos bem abertos. Como se estivéssemos no fundo do mar de nós mesmos e tudo transluzisse de repente. E, contudo, frases como as três últimas não ocorrem em roteiros de clipes para bandas de forró. Então, é melhor não viajar mais na maionese. [Lenta fusão]. É dia novamente. [Close no rosto d]a vocalista, que acorda aos poucos. E não consegue esconder seu pesar. Está deitada numa rede na penumbra do quarto. Foi tudo um sonho, acabou. E naturalmente ela já acorda à moda TV Diário – ou seja, toda maquiada, de shortinho sumário e calçando uma plataforma de 19cm, sobre a qual se equilibra para chegar à janela. Uma lágrima pinga da ponta do nariz recentemente reconstituído e escorre pelo queixo. E, então, com a face colada à vidraça, ela vê a neve caindo tristemente nas ruas de Paris enquanto sonha estar na Praia de Tambaba.


O mundo é injusto, Celione.