Alberto Giacometti, Femme debout, 1947
Álisson, o centrifugador
–Ah,tá, isso é coisa do Álisson.¹
O Álisson era um garoto proparoxítono, que tirava fotos e lia fatos no Twitter:
–Bom dia, Álisson!
–Bom dia, Narrador, você viu a Soraya?
–Rapaz, vi não.
E os dois prosseguiram caminhando em opostas mãos pela calçada estreita, um pouco arrebentada. O Narrador entrou na venda:
–Ei, Terceiro Excluído, 'cê sabe por onde é que anda a Soraya?
–Meu camarada, é preciso descobrir antes que o Álisson dê com o paradeiro dela – disse em gatilho mais rápido o Jogador de Damas.
–É, faz dois dias que ele brinca de Giuliano Gemma, pra cima e pra baixo com aquele berro carregado, o vira-lata abanando o rabo, depois de centrifugar metade do brilho da comunidade – disse o Terceiro Excluído.
–Assim, nem o delegado do 23º limpa a barra dele.
E então, meio-dia para tarde, quando o Terceiro Excluído e o Jogador de Damas finalmente deram com a Soraya, Álisson ponderava se levava ou não a sério a seguinte tag do Twitter: “A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena#GrandesPoetas" – enquanto babava diante de uma foto mais ousada de Patrícia Poeta.
¹Segundo estatísticas, cerca de 7% dos brasileiros tem o primeiro nome terminado em “son” (“filho”). Talvez pela vontade dos pais de que os meninos portem algo de anglo-saxão. Nem que seja no nome. É dessa volição que vêm os Wilson's, Émerson's, Álisson's, Edilson's, Edmilson's Edson's, Nilson's...
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