sábado, 31 de dezembro de 2011

Relaxe e goze, como dizia a Marta

[s/i/c]

Diálogo cheio de Louros

Dia após dia, um papagaio ao outro dizia a Ilíada numa edição anotada. O outro apenas escutava compenetrado e, algo, tímido. Meses a fio até silêncio.

Certa manhã, depois de mastigar o silêncio por uns dias, o outro então danou a falar. Mas o máximo que conseguiu dar de volta foi Os Lusíadas. Semanas nisso. E as sábias especulações de Wilhelm Storck, Carolina Michäelis, Hernâni Cidade...

O primeiro ouviu a perder de vista, achando aquilo tudo engenhoso, embora um tanto moderno.

Depois, quando as últimas armas, os últimos barões, os últimos sinais, as últimas praias ocidentais se foram, Inês era mais que morta e o Velho do Restelo Trisavô, satisfeito, o primeiro pigarreou. E cheio de bossa, como se guardasse uma surpresa, as peninhas eriçadas, disse todo o On the Road. Nisso as chuvas chegaram. Calhou que o dono ouvia jazz. Tudo ficava mais em casa. Até que “in the deep glens where they lived all things were older than man and they hummed of mystery".

"Curupaco Wow!" Com as chuvas em plena torrência, o outro, agastado, resolveu contratacar ainda mais em zás. Tascou a letra de "I Heard It Through the Grapevine".

Alguém precisa ser feliz neste mundo.


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