sábado, 24 de dezembro de 2011

O outro mestre das seis

Juan Gris, Guitar and Glasses, 1914


Laurindo

Da guitarra brasileira, indisputável que o "messianato" é dele: Roberto Baden Powell de Aquino. E, no entanto, o São João Batista chama-se Laurindo. Laurindo Almeida. Nada de Laurindo soa improvisado. Longe disso. Há uma elegância jazzística. Do músico superlativo que foi. Em seus últimos anos, ele já falava português com o carregado sotaque de quem mudou-se para os Estados Unidos à época de Carmem Miranda. Acompanhando-a. Naquela época era virtualmente impossível ser apenas um violonista, viver disso no Brasil. Mesmo para esses caras geniais. Alguns anos depois, o próprio Baden também teve de exilar-se para poder viver de sua música. E talvez por pilhéria - o que não era seu fraco - fixou-se na cidade de Baden-Baden.

Há muitos anos atrás, ainda na década de 70, lembro de uma matéria no Fantástico. Era sobre um casal de crianças da favela que havia sido adotado por suecos ainda na primeira infância. O menino seguira de meses, e já não lembrava de nada. Sua mente escandinavizara-se por completo. A menina, então já uma mocinha, referia-se ao Brasil com algum vestígio de saudade. Como uma terra remota e sonhada. Com olhos onde havia uma evidente vontade de volta. Nem que para refazer de um lugar de novo um local. E complementava essa vontade de regresso cantando.

A canção era... “Manhã de Carnaval”. Ela cantava com imensa dificuldade e carregado sotaque, mas com visível vontade de fazê-lo. De expressar-se. Foi um momento raro na televisão. Tocante mesmo. E um vero atestado da força da música como um dos mais fortes índices de cultura.

Voltando à limpidez emblemática do violão de Laurindo Almeida, segue ele aqui acompanhando a mezzo soprano Salli Terri numa versão do primeiro movimento (Aria) da Bachiana Brasileira N.5, esse outro documento da raça, a exemplo de "Manhã de Carnaval". Villa-Lobos compôs a quinta das Bachianas para um ensemble de violoncelos mais soprano. E no entanto a fluidez desta versão logrou-lhe, asseguram alguns, ser a favorita do autor:


Um Bom Natal pra Você!


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