quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Cuja presença revela o agora: Dante


John Flaxman, Beatrice and Dante, 1807




III.

'A ciascun'alma presa e gentil core'



A ciascun'alma presa e gentil core

nel cui cospetto ven lo dir presente,

in ciò che mi rescrivan suo parvente,

salute in lor segnor, cioè Amore.

Già eran quasi che atterzate l'ore

del tempo che onne stella n'è lucente,

quando m'apparve Amor subitamente,

cui essenza membrar mi dà orrore.

Allegro mi sembrava Amor tenendo

meo core in mano, e ne le braccia avea

madonna involta in un drappo dormendo.

Poi la svegliava, e d'esto core ardendo

lei paventosa umilmente pascea:

appresso gir lo ne vedea piangendo.



Dante Alighieri




III.

'Em toda alma cativa de gentil favor'



Em toda alma cativa de gentil favor,

cuja presença revela, de fato, o agora

para que minha escritura soe em demora,

saúdo seu senhor supremo, o Amor.

Eram já quase três horas, e o fulgor

esplendia em cada estrela céu afora

quando o Amor surgiu fora de hora

e sua chegada me causou horror.

Mas parecia alegre, o Amor, retendo

meu coração, e embalando prosseguia

em seus braços, a que amar entendo.

Quando a despertou, sem remendo

Ela, em recato, pôs-se à mesa e comia

Enquanto Ele aos prantos foi desaparecendo.





* * *


Um comentário:

  1. Ruy, poderia mesmo um homem amar uma mulher tão logo a encontre pela primeiríssima vez? Sentir, então, todo dia uma punhalada de fome por ela e somente nela encontrar sustento? Acho que sim. Mas a gente ao redor, especialmente ela, veria através das barras de sua condição e se condoeria? Hum?
    Obrigado por ter atendido esse meu pedido.
    Avanti.

    ResponderExcluir