Lucien Freud
Uma vez, em Viena, o regente dirigia um ensaio de ópera. Todo superlativo. Tudo superlativo. Era Wagner. Os naipes seguiam afiadíssimos, quando de repente, num
destaque da trompa, o maestro deu sinal de parada. Podia-se ouvir um trincar de dentes.
Virou-se para o trompista:
Virou-se para o trompista:
-Desejo que o Senhor execute esta passagem em
forte, como Wagner propôs.
Retomaram.
O trompista
executou com mais acento. O maestro parou de novo:
-Desejo esta
passagem em forte, senhor, como está escrita na partitura.
O músico tocou ainda mais forte. O regente parou de novo:
O músico tocou ainda mais forte. O regente parou de novo:
-Pelo Amor de
Deus, forte, forte, como está escrito!
Já com os bofes para fora, o spalla disse:
-Mais forte do
que isto impossível!
E o maestro:
-O Senhor insiste em
tocar fortissimo, quando está escrito apenas forte.
Pronto. Eis
o diagrama da arte no Brasil, no atacado, em relação à intensidade
com que ela busca representar ou compartilhar um ponto de vista. O
exagero é já tão nosso, que qualquer ínfima modalidade de sutileza, sobriedade, comedimento ou sugestão é percebida como uma opulenta forma de tecer um novo
comentário ou partilhamento. De empreender uma descoberta. Ou compor uma nova estética.
E há esse
nome de uma banda californiana: Red Hot Chili Pepper. E é uma boa
banda. Mas o nome. (Talvez funcione, por inversão no inglês, para a ética protestante). Vermelho, ardente, pimenta são características
do chili. Por que ressaltar tanto?
Quando se exagera, quando se acentua sempre - sem alternativa, sempre e de novo - perde-se o exagero como recurso, o acento como demarcador de ritmo.
O deserto é bonito? Sem dúvida, porque é um despautério de nada. Nele, qualquer placa enferrujada, saindo da areia ou lagartixa movendo-se sobre as dunas, ganha uma ênfase, uma urgência, uma vitalidade extraordinárias. Agora, quando há toneladas de placas enferrujadas, todo uma sucata ou uma centúria de lagartixas rastejando à volta, o deserto é suprimido. Bem como as placas e as lagartixas.
Trate bem o seu argumento. Ele é o único que você possui.
Quando se exagera, quando se acentua sempre - sem alternativa, sempre e de novo - perde-se o exagero como recurso, o acento como demarcador de ritmo.
O deserto é bonito? Sem dúvida, porque é um despautério de nada. Nele, qualquer placa enferrujada, saindo da areia ou lagartixa movendo-se sobre as dunas, ganha uma ênfase, uma urgência, uma vitalidade extraordinárias. Agora, quando há toneladas de placas enferrujadas, todo uma sucata ou uma centúria de lagartixas rastejando à volta, o deserto é suprimido. Bem como as placas e as lagartixas.
Trate bem o seu argumento. Ele é o único que você possui.
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